sábado, 25 de julho de 2009

Imprensa, concessão e poder


O professor Roger Silverstone* explica no seu livro, Por que estudar a mídia, que “precisamos examinar a mídia como um processo, como uma coisa em curso e uma coisa feita, em todos os níveis, onde quer que as pessoas se congreguem no espaço real ou virtual, onde se comunicam, onde procuram persuadir, informar, entreter, educar, onde procuram, de múltiplas maneiras e com graus de sucesso variáveis, se conectar umas com as outra”.

A partir dessa explicação precisamos, então, entender as razões pelas quais a maior parte das concessões dos veículos de comunicação no Brasil está nas mãos de politicos e seus familiares.

As razões podem ser diversas, no entanto, todas estão atreladas a este fascínio que a mídia proporciona na sociedade a ponto de redensenhar novos modos e costumes de grupos societários.

O site Transparência Brasil fez um levantamento em junho/2009 de alguns números: 29 senadores (36% do total de 81) e 62 deputados (12% do total de 513) têm concessões de rádio e TV.

Com o veículo na mão, o poder da informação passa a ter cara e projetos: estimula a produção de novos atores políticos, possíveis candidatos a vereador, prefeito, deputado estadual ou federal, apóia campanhas em níveis de estado e nacional e constrói uma imagem.

A relação é aglutinadora. Amigos, parentes e agregados fazem parte das equipes comunicacionais que definem como, quando e o quê deve ser veiculado. O noticiário fica totalmente atrelado a essa linha editorial.

Credibilidade? Isso quase que não existe. Afinal, que político dono/proprietário de uma emissora de radio ou TV ou jornal vai permitir que sua equipe de jornalistas publique informações negativas a seu respeito?

E a sociedade não tem direito a informação? Sim, de fato tem. A constituição garante. Mas, quem faz o jogo do poder define quem detem os meios pelos quais essa informação deve ser veiculada. Na mediação estão os grandes conglomerados da industrial cultural ou o que chamamos de imprensa hegemônica.

Toda essa percepção sobre domínio da informação, interferência direta no que é publicado, indicações de pessoas não profissionais para diversos cargos e manutenção do poder comunicacional é muito mais visível em cidades fora do eixo das capitais a exemplos de Juazeiro/BA e Petrolina/PE.

As chamadas grandes cidades estão envolvidas muito mais em questões macro econômica e política e pouco se percebem dessa hegemonia. As exceções ficam por conta de capitais como São Luiz/MA (que além de público e notório a interferência coronelista da família Sarney em todo território/estado é alvo de publicações internacionais) e Maceió/AL com a participação imperativa dos Collors em toda extensão geográfica.

Há também na região Norte uma grande influência política nas informações publicadas na mídia. Algumas são censuradas explicitamente e não existe questionamento do exercício da democracia por lá. São vários brasis dentro de um grande Brasil.

Voltando a nossa região do Vale São Francisco, hoje colhemos dos frutos amargos dessa imprensa hegemônica onde muitos se dizem praticar o verdadeiro jornalismo (no campo da ciência) e nem de longe passam pelas reais técnicas de produção de conteúdo.

Outros, dizem cumprir com o seu dever para com a sociedade ‘forçando a barra’ para que secretários de governo, presidentes de associações de bairro e outros possam estar na mídia e dizer o que estão fazendo com suas funções para melhor desenvolver a cidade.

Ausência de definições à parte, pode-se tirar bons exemplos dessa prática:
1º) uma análise profunda sobre o que é de fato o verdadeiro jornalismo;
2º) a dificuldade que muitos profissionais tem para fazer uma imprensa comprometida com a sociedade;
3º) e a necessidade de se redesenhar a mídia que está emergindo a partir de novas práticas comunicacionais.

Difícil? Sim. Mas, não impossível.

* SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Edições Loyola, 2002.
Silverstone é atualmente o coordenador do European Media Technology and Everyday Life Network (EMTEL), um grupo que congrega sete laboratórios de pesquisa em toda a Europa, destinados a formar jovens pesquisadores e a realizar estudos nas áreas de mídia, tecnologia e vida cotidiana.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lula e Sarney: amigos de berçário


“É preciso saber o tamanho do crime, ou seja, uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir um emprego, outra coisa é relação de influências, outra coisa é o lobby”.

Este é um dos últimos textos do presidente Luis Inácio Lula da Silva, veiculado em toda mídia, referente à sua defesa em prol do senador José Sarney. O mesmo, que antes Lula tinha como arquiinimigo assumido na imprensa, hoje, é seu amigo intimo, de berçário.

No meio do lamaçal (que já vem sendo alimentado a um bom tempo no Senado) tudo que se referir a “Casa da Mãe Joana” fede. As exceções estão em algum arquivo morto e por isso não emergem das cinzas para transformar a tal Casa dos horrores em lar, doce lar.

Em paralelo a tudo isso, a ausência de coerência no discurso do presidente Lula em relação ao seu passado histórico, onde a luta estava centrada na democracia, ética e igualdade social, parece não atingir a ideologia política dos militantes “esquerdistas” de carteirinha.

Todos continuam achando que “ele é o cara”.

A explicação é singular: tudo é uma questão de conjuntura. Ao fechar os olhos (novamente, de novo, como sempre), o nosso presidente assume a postura ratificada por todos que passam pelo Governo: estar no poder é diferente.

O próprio Lula poderia usar sua frase emblemática, “nunca antes na história desse país”, para explicar que tragédia como essa, vivida pelo Congresso Nacional, especificamente o Senado, vai marcar por completo a memória dessa nação.

Longe de querer agredir a excelência de entendimento do presidente, mas essa história ficará marcada pela queda do discurso esquerdista/ideológico, pela prática oportunista e de influências que só mesmo um presidente carismático e do “povo” como ele poderia fazer.

Um aprendizado para os estudiosos da política como ciência e da imprensa como espaço mediador dessas informações.

Diante dessas práticas rotineiras, o Brasil pode assumir, sim, um discurso vendável ao mercado externo: país do futebol, das mulheres melancias e morangos, prostituição fácil (adulto e infantil), reserva ambiental explorável e cursos preparatórios para corruptos, corruptores, receptores e formação de quadrinha.

No mais, os presidentes do Brasil e do Senado, tiram as dúvidas.

Suape: um porto seguro

Foto: Divulgação

Sabe aquela praia de Suape (litoral Sul de Pernambuco), local onde estão sendo instalados vários empreendimentos turístico, comercial, industrial?
Pois bem, o hectare por lá está em torno de R$ 67 mil. É mole? Pelo menos é o que diz a revista Negócios PE - Coluna Radar de Drayton Nejaim (24/07/09).

É por isso que uma das praias é chamada de Paraiso. (a foto não deixa mentir)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Publicidade certa

Tudo bem com a foto da esquerda: é uma imagem serena. Já a foto da direita nos remete a uma cena trágica. Na verdade, as duas fotografias são uma só.

Trata-se de outdoor presente nas estradas da Nova Zelândia e que integra a campanha de redução de acidentes, sobretudo quando chove. Pois bem, esse outdoor possui sensores que fazem escorrer sobre ele um líquido vermelho quando está chovendo - e o garoto da foto parece então que está com o rosto ensanguentado.

Quando a chuva passa, a foto volta ao normal. Isso tudo para dizer subliminarmente aos motoristas: cuidado com a chuva, não corra. A campanha não poderia ter dado melhores resultados.

Na quarta-feira 8, o governo da Nova Zelândia divulgou o número de acidentes com vítimas fatais desde que ele foi instalado na Páscoa: simplesmente zero. A campanha acaba de ser premiada no Festival Publicitário Internacional de Cannes.

Fonte: Isto É - 1o/07/09

Nota blog: os bons exemplos a gente tem mais é que divulgar.

Publicidade Incorreta

Deputado do castelo se livra

Jornal do Commercio - 16.07.2009

Por 9 a 3, o Conselho de Ética da Câmara absolveu ontem, em definitivo, o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) – o “dono do castelo” – da acusação de mau uso da verba indenizatória. Indignado com a medida, o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) renunciou à vaga no colegiado. Já Sérgio Moraes (PTB-RS), o primeiro relator do caso e que foi afastado após defender Edmar e atacar os meios de comunicação – “estou me lixando para a opinião pública”, disse – comemorou. “Essa polêmica me deu muitos pontos. Nunca recebi tantos convites na vida, ganhei espaço”, debochou.

Nota blog: a limpeza é no Congresso Nacional e não apenas no Senado.

Lágrimas de Vilma na TV



A dor da gente saiu hoje (16/07/09) no jornal quando Vilma, apresentadora da TV Grande Rio, deixou de “representar” diante da câmara e não controlou a emoção, geralmente, tão exigida na profissão.

Após a matéria sobre o enterro das 2 crianças mortas com uma barra de ferro, pelo próprio pai biológico, na manhã de quarta-feira, 15/07, no Núcleo 4 do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho (10 quilômetros do Centro de Petrolina), Vilma quase foi as lágrimas. O fato ficou visível e natural.

Penso que isso é muito bom (as lágrimas de Vilma) porque quebra um pouco a imagem que o jornalista é super super e não tem sentimentos. Creio que as pessoas pensam dessa mesma forma, tipo: poxa, até a apresentadora na TV tá sentindo a dor da gente!

A dor da gente nunca é retratada no jornal. Mostram-se os acontecimentos, a tragédia, as indicações das possíveis razões que levaram o fato a ser consumado, mas a notícia não consegue descrever a dor.

Muitos fazem da dor um espetáculo da informação para chamar atenção. Outros querem “render” a dor da vítima por horas e horas de exposição para ganhar audiência. E ainda tem uns que pegam carona na dor da gente pra se mostrar parte do processo.

Na medida em que temos mais compreensão da complexa relação sociedade X sociedade abrimos possibilidades de novas formas de fazer, ou melhor, de pensar jornalismo. Até porque o telespectador, leitor, internauta, ouvinte não é passivo das transformações. Ele é agente operante.

Assim sendo, a dor da gente passa a ser parte do processo comunicacional e não mais fatia descartada da realidade. Daí a razão (de nós jornalistas) estarmos sempre estudando, pesquisando (dentro do espaço acadêmico) e compreendendo essa estrutura societária para a partir desse entendimento agirmos cautelosamente como profissional e não como máquinas.

Quando percebemos essa complexidade passamos a ser sujeitos e atores dessas mudanças. Jornalismo também tem razão e emoção, sim senhor!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Deu na imprensa internacional: a família Addams mora no Senado

Imagem ilustrativa do Senado Brasileiro

Vamos por parte como diria Jack, o estripador. Afinal, nem todos que estão dentro do Senado são da mesma família, mas vivem juntos numa área em comum e alguns são omissos quando o assunto é moralidade. Unidos formam um clã, uma facção ou um comando.

Assim, precisamos entender que se o Senado Federal é a nova “casa dos horrores”, como explicou bem direitinho a matéria da revista britânica The Economist, os habitantes desse espaço tem tudo a ver com a família Addams. Família esta que protagonizou uma série de TV com espetáculos horripilantes na década de 1960 e foi repaginada em vários outros momentos.

Entre tragédias, armadilhas, terror e tantas outras situações mórbidas exibidas durante a série qualquer semelhança entre a casa da família Addams e o Senado brasileiro não é mera coincidência. É adequada e proposital.

A diferença é que as histórias do casal Gomes e Mortícia com seus filhos Wednesday (Wandinha), uma menina sádica e um tanto quanto soturna, que adora brincar com seu desmiolado irmão Pugsley (Feioso), submetendo-o a vários tipos de tortura além de todos os demais loucos membros da família não passam de uma grande ficção.

Já o Senado é uma realidade nua e crua que nós brasileiros assistimos, não acreditamos no que estamos vendo e ainda temos a impressão que o roteiro do filme está apenas no começo.

O final da história? Esperamos que as urnas (em 2010) respondam.

Ps: Os recentes escândalos envolvendo o Congresso brasileiro foram destaques na revista britânica The Economist (julho/2009). Veja matéria aqui.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

2010: o ano da mudança?

Se gritar pega ladrão no Senado Federal nem os ratos que se escondem por baixo do carpete azul e só aparecem na calada da noite escapam. Todos entram no mesmo buraco.

Em termos de unidade, o Senado é o melhor exemplo de igualdade a ser visto em relação a qualquer outra instituição brasileira. Mesmo que a divisão não seja igual, todos estão no mesmo barco, ou melhor, na mesma sarjeta.

Os senadores se amam e percebem que nada está como antes e tudo continua como sempre esteve. Quando se trata de dividir benefícios o resultado é matemático: um pra você, dois pra mim (pra eles!!).

Embora todas as falcatruas, maracutaias, abuso de poder, nepotismo, clientelismo, benesses e regalias sejam públicos e notórios, há um emaranhado de tubulação e fios que vão brotando do subterrâneo da Casa que dá uma sensação que não acabam nunca. São várias minas espalhadas em todo o solo.

Não há trabalho. Há discurso. Não existem pautas. O tema é sempre único. Na medida em que se busca limpar o esgoto, mais o lixo sobe e toma conta do cenário. Hoje, o Senado é uma bomba atômica na espera de um comando para explodir.

Pela memória registrada em livros, ‘nunca antes na história desse país’, o Senado foi tão desacreditado, desmoralizado e ineficiente na sua função para com a sociedade.

Os que se dizem baluartes da verdade, moral e decência, as possíveis reservas de caráter, de fato não existem. A tirar pelas escolhas à presidência, governar em causa própria, a socialização de imoralidade entre todos os pares e ímpares e a tentativa de criar uma nova imagem para Casa que resgate um mínimo de dignidade.

Mas, algumas coisas mudaram. A sociedade atônica assiste tudo não mais de forma inerte. Hoje a internet facilita a comunicação. São e-mails, comunidades virtuais, twitter, blogs, orkut e ainda se usa a velha faixa na rua (e funciona...) para pressionar, mostrar indignação e retratar ao vivo e em cores o que a sociedade pensa desses larápios travestidos de pessoas do bem.

Um detalhe parece não ser percebido pelos tais representantes: 2010 é ano de eleição.
Com a acessibilidade a informação e a ausência de credibilidade em nossos políticos o voto pode até continuar sendo obrigatório, mas o resultado do pleito poderá ser uma grande revolução.

Diante de um novo cenário, melhor seria que os senadores começassem a limpar o gabinete a partir de hoje. Porque depois de 2010 o espaço poderá ser ocupado por outro.