domingo, 30 de dezembro de 2007

A paisagem do Recife

Foto Junior

O Recife tem umas coisas que intrigam o olhar mais atento dos sensíveis e zelosos por uma urbanização descente. A poluição visual-publicitária esta deixando a paisagem mais triste. Sem dúvida isso é uma questão de responsabilidade pública e sobretudo de decisão política. Isso existe no Recife?

Nada a ver com preconceito a propaganda externa, muito pelo contrário, sendo esta uma ferramenta a favor da divulgação de produto e quando bem exposta e trabalhada, tem resultados extremamente satisfatório.

A questão básica é que muro, ruas, poste, pontes... não há um só lugar da paisagem urbana que não esteja ocupado por placas, luminosos, lambe-lambe, totens, tabuletas e outras coisas que alguns chamam de “mídia externa”.

Que tipo de política pública está sendo feita para regularizar isso? Por que em plena praça pública políticos podem colocar tabuletas de saudação tomando conta do "pedaço" como objeto pessoal? Por que logo os políticos?

A fixação na mente? Possivelmente a pior. Afinal, entender e assimilar objetos em tabuletas ou outdoor já é uma tarefa natural dos que vivem em metrópoles, agora engolir propaganda demagoga de políticos é querer demais do contribuinte que paga impostos e quer ser cidadão.
As pessoas nos centros urbanos estão sempre correndo pelas avenidas principais como se o tempo fosse terminar em cada instante e o um turbilhão de carros se entrelaçam como se concorressem com o tempo para saber quem chegará primeiro. Isso já é muito pra gente!!
Políticos e poluição visual à parte. Nada como contemplar uma paisagem rica em água e frutífera em desenvolvimento. Recife, preserve sua paisagem!
Afinal, a cidade é formada por gente e a história também.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Estou no Recife....

João Cabral de Melo Neto - Foto Demetrio

Recife e seus desafios

Capiba - foto Demetrios

Praticamente, digo aos meus alunos todos os dias que a capital mais linda do Nordeste é o Recife. Amo esta cidade, suas pontes, casarios, arquitetura e essa orla que de tão bela entontece.


A beleza do Recife é ressaltada nos detalhes da arquitetura imponentes, heróica e delineada pelas obras de quem ama a arte. O Recife é uma expressão de crescimento constante com espigões adentrando nas periferias e no próprio centro da cidade.


O contrate das arquiteturas faraônicas com as palafitas entre rios é um fenômeno não apenas do Recife, mas de grandes metrópoles cercadas de água. Olhar este é cenário é no mínimo refletir sobre as novas tendências urbanas e a preservação do passado.


Mesmo com toda exuberância, há uma tristeza dolorida no Recife que pode vista nos olhos (quando dá tempo) das pessoas que circulam apressadas. Há um temor e pavor do outro como se a qualquer momento alguma coisa ruim fosse acontecer.


A beleza se mistura com a solidão, com o agito frenesi das coisas de cidade grande e com a ausência de políticas públicas eficientes. Há quatro anos fora do Recife, posso perceber que mesmo amando esta cidade, entendo que as pessoas estão vivendo como mutantes, andarilhos...a procura de...


Recife, cidade dos poetas, dos artistas, de um povo caloroso... o que dizer com tanta ausência de coisas a fazer para manter uma cidade e seu povo em constante vontade de viver e viver...

Estou no Recife 2

Manuel Bandeira - Foto Demetrio

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A derrota do governo e a não vitória da oposição


Há quem diga por aí que a derrota do governo no Senado depois da não aprovação da CPMF está sendo amarga, sofrível e absurdamente engolida de goela a dentro pelos compatriotas do PT e assemelhados.

Do outro lado, alguns esbanjam sorrisos promissores sobre a vitória da oposição com a derrubada heróica da CPMF.
Nem uma coisa nem outro a imprensa fica no meio dessa briga. Afinal, em alguns editoriais já se escreveu muito sobre o contra ou a favor de um imposto que veio para atender ao câncer da área de saúde, que sempre esteve na UTI em estado de falência múltiplas dos órgãos, e que praticamente viu o dinheiro voando pela janela. O imposto que de provisório e temporário quase se perpetua de forma exemplar para uma sociedade que perdeu o horizonte do inimigo.
O poder tem dessas coisas. Pois não é que há alguns anos a tão oposição de hoje, baluarte da verdade e do desejo de fazer uma “sociedade mais junta”, é a mesma que criou a CPMF e brigava escandalosamente com espada em punho que o tal imposto iria tirar a saúde do buraco negro, ou melhor, da rua da amargura...
Ao contrário, na época, do PT, seus aglomerados e consorciados, que subiam na tribuna da casa do povo para “malhar o pau” na gestão pefelista (hoje democratista....) e tucanista. Era o PT do Lula Lá, de Mercadante, José Dirceu, Heloisa Helena (hoje P-SOL) que se mostravam aglutinadores do contra a CPMF alegando, inclusive, que o objetivo do governo (na época) era fazer caixas e caixas com o dinheiro do povo.
Verdadeiramente, estamos assistindo a Divina Comédia de Dante Alighieri ou é uma tragédia grega?? Os atores estão pulando de cena e quadros como marionetes. Estão trocando de lugares de tempos em tempos como se isso fosse a solução para o desfecho teatral.
Filosofia à parte, nós eleitores estamos completamente perdidos. Afinal, a credibilidade da instituição Congresso Nacional está na lama, os representantes eleitos pelo voto direto, também.
O discurso, a retórica ficou esvaziada no tempo. Chegamos ao ponto de não sabermos quem fala e quem se diz ser sujeito da fala.
Nesse contexto a imprensa também é uma representação do caos. Mesmo porque as fontes “exemplos” da tão valiosa “verdade” passaram de lado e com elas o discurso seguiu em macha. A pauta da grande mídia ainda é pontuada pelo grosso – geral – do dia-a-dia. Uma salada de pepino com abacaxi semelhante em toda a imprensa. Enquanto os blogs de editorial político estão avançando na busca de fatos e elementos novos que contribuam para uma visão mais societária.
A grande questão ainda é: será que estamos caminhando para uma reforma política transformadora? Ou estamos cambaleando para um poço mais fundo do que este que estamos?
Talvez as urnas de 2010 respondam.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quando a moral e os bons costumes não passam na TV

Parece que virou mania brasileira a falta de valores estabelecidos a partir do quintal da nossa casa quando aprendemos que respeito, decência, moral e limites são fundamentais para nossa convivência em sociedade.

Ter no outro uma referência de atitude também era exemplo a ser, costumeiramente, compartilhados entre amigos e familiares. A idade, os cabelos brancos, a experiência tinham carimbos de credibilidade e por isso mesmo os que ainda não tinham chegado a esta fase, esperavam calmamente a oportunidade de chegar junto aos mais velhos para aprender e conhecer os caminhos das pedras.

Pai e mãe davam benção aos filhos visando estabelecer um laço de confiança, carinho, segurança e exaltação calorosa de uma vida em harmonia, silenciosa e tranqüila com resultados promissores. Os filhos tinham respeitos, reverencia paciência e amor para com os pais e a família em geral.

A dor de um era sempre compartilhada com os outros. O outro era parte fundamental da construção da estrutura societária. Valores e referencias familiares eram brasões perpetuados de geração em geração.

O resumo da ópera é simples: isso faz tanto tempo assim? Tempo ou não a mídia encurtou este espaço. Vomitou as mazelas em telenovelas, seriados e programas de humor que deixa qualquer adolescente/jovem atônicos e perdidos.

As referencias são as piores: filhos que mentem, roubam, respondem agressivamente aos pais e parentes... que não têm limites... que não gostam das pessoas, que agridem mesmo antes de ser tocados...

A novela, obra aberta e sujeita a muitas mudanças, vai desenhando uma sociedade perdida, sem rumo, desprovida de qualquer caráter, de conceitos elementares na construção de grupos e relacionamentos. Alguns dizem ser “ a realidade do país “, outros querem justificar o maniqueísmo como resultado da evolução do sujeito.

A representação dessa sociedade em série de forma humorada ou dramática é também a radiografia de uma sociedade que está dentro do processo evolutivo tecnológico (internet, TV Digital, blogs...) e perdida no emaranhado de opções.

Tão longo percebamos que estamos caminhando para o fundo do poço poderemos fazer a transformação necessária nos meios de comunicação, em especial a TV. Mudanças estas que contemplem a participação da sociedade na gerência dos conteúdos e no debate sobre as temáticas abordadas.

Assim sendo, a realidade apresentada nas telenovelas ou nos programas de show/humor possa ser cópia fiel do que verdadeiramente esta sociedade está vivenciando e apreendendo na construção de novas possibilidades de comunicação.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Poeta do Rio

O poeta é antes de tudo um sonhador. Sonha pelo que crer, sonha pelo que ama... sonha pelo imaginário e pela vontade de fazer.

Carlos Laerte é um pouco disso tudo misturado com originalidade, determinação, sensibilidade e vontade de fazer melhor. Ao mesmo tempo em que escreve jornalisticamente, faz isso também de forma poética.

Ao mesmo tempo em que lança seu olhar sobre objetos e personagens dá vida ao imaginário.

Ao mesmo tempo em que se faz publicitário se mostrar engajado nas entranhas do sertão nordestino e encontra flores na Caatinga onde muitos dizem ver apenas um chão batido castigado pela seca.

Laerte é de uma percepção instantânea, desbravadora e alegre. Sua forma de ver, sentir e admirar o Vale do São Francisco é contagiante. Ele é a representação desse Vale, das cidades de Petrolina e Juazeiro.

São essas raízes apresentadas de forma lúdica, histórica e especial que fazem de Carlos Laerte um poeta por excelência. Uma pessoa muito especial.

Título: O Rio que Passa
Lançamento em Petrolina
Dia: 13/12 às 19 horas
Biblioteca Municipal Cid Carvalho

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O que faremos com os candidatos na eleição de 2008?

Longe de querer resolver todas as questões politiqueiras dos partidos e candidatos, o eleitor de hoje é uma das peças mais preciosas para os políticos de amanhã.
Mesmo querendo entender a política regional, em especial, de Petrolina, é muito complicado para o eleitor desenhar o cenário local.

Afinal, os presidentes de associações estão envolvidos até o pescoço com os seus candidatos de área. Nos guetos ou currais nos quais eles praticam sua política estão contabilizados os endereços, ruas e títulos de eleitores do “votantes”. De posse desse arsenal, os “representantes de rua” barganham com os candidatos a prefeito ou mesmo vereadores o volume de troca e venda das mercadorias. Tudo pelo poder.

Numa outra ponta, os possíveis candidatos a prefeito parecem costurar suas estratégias para manutenção do coelhismo em Petrolina. Gonzaga Patriota (PSB) que há quatro anos foi a rua, a TV, ao rádio (aliás, rádio é algo que ele domina muito bem)... dizer que seria a única e melhor opção para prefeito desta cidade. Diante dessa possibilidade, os Coelhos se armam, saem da toca e vão as ruas também para conquistar voto a voto do eleitor.

Hoje, Gonzaga Patriota, por baixo do pano, ou melhor, por baixo da mesa, está passando o bastão e a espada e deve sair de forma “honrosa” da disputa. Ainda sem conhecer o que verdadeiramente existe por baixo da mesa, $$$, o eleitor vai se deparar com uma eleição pontuada. Isabel Cristina levantando a bandeira do PT, pra não dizer que não se falou de flores, o sargento Quirino com um discurso oposicionista cambaleando e o então prefeito Odacy Amorim com larga retaguarda dos Coelhos os quais apenas postergam um momento vindouro.

Como as águas do rio não param... muita coisa ainda vem à tona para espanto do eleitor e da sociedade em geral. Por muito que se mexe... e mexe... alguma coisa não está cheirando muito bem. É bom o eleitor ficar atento.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O senado brasileiro representa o povo?

Anúnico Meio & Mensagem


Quando falamos de política brasileira, boa parte das pessoas quer justificar as mazelas estampadas e assumidas por personagens sem escrúpulos, culpando a colonização dos portugueses e roubalheiras da corte como elementos conseqüentes e marcantes da nossa história há mais de 500 anos.

Alguns querem compreender os políticos com suas ausências de dignidade e respeito ao cidadão explicando que ao chegar o poder, todos ficam fascinados pela grandiosidade da manipulação, falcatruas e negociatas escusas.

Verdadeiramente, "nunca antes na história desse país", parafraseando nosso ilustre presidente Lula, a sociedade brasileira viu, assistiu e “aplaudiu” um fato tão estapafúrdio, horripilante, absurdo de digerir como o caso Renangate. É necessário, pelo menos, de um estudo sociológico da formação de quadrilhas institucionalizadas e representativas dentro do Congresso Nacional.

Hoje, o Brasil acorda órfão. O Senado nacional matou pela segunda vez a democracia constituída neste país ao absorver Renan Calheiros de forma complacente, elegante e singular. Um homem sem honra, sem moral e cinicamente debochado. Desprovido de conduta ética, decência e dignidade. Renan é o exemplo nítido e notório da nossa representação política. É a configuração da institucionalização do processo de corrupção no Congresso Nacional.

Sabedor das armas bombásticas que tem em mãos e que ao ser negado a sua inocência pelos seus pares poderia apresentar o dossiê obscuro de todos os seus comparsas negociou sua saída com seus amiguinhos dando o silêncio como agradecimento pelos votos favoráveis a sua absolvição.

Aos eleitores alagoanos ele manda um aviso: “conto com vocês na próxima eleição”. Aos milhares de cidadãos pelos quais ele deve total satisfação ele ergue as mãos de forma cruzada simbolizando uma “banana senadorial”.

Para Renan, renunciar e ainda se dizer inocente depois de todo lamaçal exposto na mídia, no Ministério Público e na Justiça, há mais de seis meses, é no mínimo imaginar que todos os brasileiros que vivem fora da fedentina do Senado Nacional são burros e loucos.

O segundo enterro da democracia, hoje, é celebrado com temor e ardor. Afinal, com raríssimas e honrosas exceções a maioria dos senadores fechou os olhos para o eleitor, para sociedade e assinaram com conivência todas as falcatruas, roubalheiras, negociatas e maracutaias institucionalizadas de forma corporativa.

Diante do caos estabelecido no Congresso e a tamanha falta de respeito com o eleitor a mídia ficou atenta em muitos momentos. No entanto, na reta final, pouco se cobrou dos tais representantes políticos.

Resta saber agora, se verdadeiramente o Senado Nacional representa o povo?

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quem agride a imagem do Legislativo

Não posso deixar de contribuir com o trabalho do pessoal da Transparência Brasil.
Trabalho este digno de parabéns. Assim, seguem abaixo, na íntegra, as notas referentes ao Senado brasileiro e a resposta da Transparência Brasil aos nossos ilustres representantes...

A imprensa retomou nos últimos dias a cobertura de relatório da Transparência Brasil sobre o custo dos parlamentos brasileiros. Na data de ontem, o senador Tião Viana fez ataques à Transparência Brasil. Hoje, a entidade respondeu ao senador. Leia abaixo as íntegras das manifestações do senador e do diretor executivo da Transparência Brasil.

A nota do senador

Pela terceira vez este ano os jornais se utilizam de dados divulgados pela ONG "Transparência Brasil", alardeando ser o Parlamento brasileiro o mais caro do mundo. Conforme o Senado Federal já respondeu em todas as ocasiões, sem conseguir obter, em nenhuma delas, nenhum espaço para apresentar suas explicações, os dados apresentados pela ONG são errados e as conclusões assentadas sobre uma metodologia completamente equivocada. A matéria, divulgada pela primeira vez em junho último, reprisada há uma semana, e novamente divulgada hoje, dia 21 de novembro, insiste na mesma tese, ignorando por completo todas as contestações técnicas e metodológicas apresentadas até aqui.

A matéria velha, agora com nova roupagem, comete erros grosseiros, principalmente porque mistura recursos de diferentes naturezas para utilizá-los como justificativa a uma tese pífia, cujo objetivo maior é o de atacar a imagem do Parlamento brasileiro.

Os erros cometidos são, principalmente, de ordem cambial e de soma heterogênea, pois mistura indevidamente de gastos previdenciários com investimentos e gastos correntes de uma Instituição que tem mais de 180 anos, dividindo esse total obtido pelo número de senadores, para concluir que cada senador ou cada parlamentar "custa tanto" ao País, procurando levantar indignação com o estapafúrdio número encontrado.

Por que a ONG não procedeu do mesmo jeito com os Ministérios ou os Tribunais? Por essa metodologia canhestra, podemos dizer que cada ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) custa ao País, 46,3 milhões, simplesmente dividindo o valor lançado no Orçamento da União de 2008 para aquela Instituição pelos seus 11 ministros.

Nessa mesma linha, o ministro da Agricultura custaria ao País R$ 6,38 bilhões, porque esse é o valor do Orçamento do Ministério, enquanto o ministro da Fazenda custaria nada menos que R$ 17,43 bilhões.

O Presidente Lula, claro, custaria quase R$ 1 trilhão, já que esse é o total do Orçamento. Será que faz sentido insistir-se nessa tese absurda? Para alguns, faz. Principalmente se é para distorcer ainda mais a imagem do Congresso.

A metodologia de trabalho utilizada é tão absurda que põe na conta de um senador atual, aposentadorias de servidores do Senado que se aposentaram quando sequer esse senador era nascido. E faz o mesmo procedimento com pensões pagas a viúvas de servidores que faleceram há décadas. Ora, quando um servidor que contribuiu 35 anos para a Previdência Social se aposenta legalmente, os benefícios que receberá enquanto aposentado são ressarcimento das contribuições arrecadadas e correm por conta da Previdência e não pelo órgão no qual o servidor trabalhava.

Quando a matéria em questão foi divulgada pela primeira vez - e certamente será divulgada outras tantas, sem qualquer retoque - a Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado produziu uma nota técnica e uma nota à Imprensa contestando o que a matéria alardeava - que o Parlamento brasileiro era o mais caro do mundo. E na briga entre a versão falsa e os dados reais, estes saíram perdedores, porque o que se quer mesmo é turvar a imagem do Congresso brasileiro.

A matéria de junho deste ano retornou intacta às páginas do JB na última semana e novamente hoje no jornal O Globo, sem retoques e sem qualquer consideração aos questionamentos feitos pelo Senado Federal em todas as ocasiões, questionamentos esses, fartamente divulgados no plenário do Senado e pelos veículos de Comunicação da Casa. Novamente, o Senado rebate a tese. Como se afirmou em junho último e na última semana, as conclusões da matéria foram erigidas em bases eivadas de vícios técnicos que, à luz de uma análise com o mínimo de bom senso, tornam-nas completamente apressadas, falsas e absurdas.

O trabalho feito pela ONG em questão contém, segundo análise de técnicos do Senado Federal, pelo menos, as seguintes imprecisões, além das que já foram aqui citadas:

1. Ao agregar os dados do lado brasileiro para compará-los aos dos outros países, o estudo da Transparência Brasil não levou em conta que 25% dos dispêndios totais do Congresso brasileiro referem-se a despesas com inativos e pensionistas, portanto, gastos previdenciários de responsabilidade da União, que em nada se relacionam ao custo efetivo de um Parlamento.
Provavelmente, muitos dos parlamentos citados na pesquisa não incluem esse item em suas despesas, tornando os números, portanto, não-comparáveis com os do Brasil.

2. Do mesmo modo, no caso do Brasil, também se agregou aos dados o custo da contribuição patronal previdenciária, que difere de país para país, conforme suas legislações, e que no caso do Senado brasileiro soma R$ 189 milhões, item que não guarda qualquer relação com a atividade parlamentar, sendo de natureza eminentemente previdenciária. No caso brasileiro, a contribuição patronal para a Previdência corresponde a 11% da folha, correspondendo a R$ 372 milhões nas duas Casas do Legislativo Federal.

3. A despesa do Congresso Nacional representa 0,7% do Orçamento da União (excluído o refinanciamento da dívida pública). Ao se descontar as despesas de cunho previdenciário, esse percentual cai para 0,48%.

4. A comparação de custo em termos de salário-mínimo local feita pelo estudo é diretamente influenciada pela estrutura de distribuição de renda do país analisado, bem assim pelo poder de compra desse indicador. Nesse sentido, a existência de um custo mais alto em termos de salário-mínimo local não significa necessariamente excesso de despesa ou baixa eficiência do parlamento em questão.

5. O estudo mencionado, na tentativa de universalizar os dados, baseou-se em parâmetros de taxa de câmbio provavelmente assumindo a premissa de tratar-se de uma situação em que esta se posiciona em um ponto de equilíbrio. No entanto, é notório que atualmente o Real encontra-se extremamente valorizado perante as principais moedas fortes do mundo, como o Dólar norte-americano e o Euro. Assim, se esse estudo tivesse sido feito há três anos, quando o câmbio era de R$ 3,12/US$, o custo em dólar do parlamento brasileiro cairia a 60% do valor agora apurado.

6. O trabalho não leva em conta as peculiaridades do Parlamento brasileiro, praticamente dividido em três: Senado, Câmara e Congresso Nacional, nem as dimensões continentais do País, que envolve maiores custos de deslocamento dos parlamentares e coisas dessa natureza.

7. Em síntese, ao se descontar as despesas que não constituem efetivamente ônus do Legislativo, ao se considerar as peculiaridades do Brasil e de sua estrutura federativa e ao se levar em conta a excepcional valorização do Real, conclui-se que o gasto efetivo do Parlamento Brasileiro não se encontra entre os mais altos do mundo. Ao contrário, apresenta-se em níveis adequados à complexidade das demandas que lhe são impostas. Vale destacar que apenas com a retirada das despesas previdenciárias do rol comparativo, mesmo considerando a esdrúxula metodologia utilizada, a despesa anual do Congresso brasileiro seria reduzida de R$ 32,62 para R$ 22,58 por habitante, caindo para a oitava colocação no grupo dos onze países pesquisados.

8. Por fim, também não é verdade o que sempre se quer alardear, que o Senado brasileiro seria o órgão público com o mais elevado coeficiente de gasto com pessoal. Não é. O coeficiente de gasto com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal é de 0,86. No Senado, esse coeficiente atinge 0,46. Isso significa que o Senado Federal gasta, portanto, praticamente metade do que a lei permite gastar com pessoal, registrando um dos melhores coeficientes de gastos com Pessoal entre todos os órgãos públicos federais".

O ofício da Transparência Brasil
Exmo. Sr.
Tião Vianna
Presidente em exercício
Senado Federal
São Paulo, 22 de novembro de 2007

Prezado senhor senador:

Dirijo-me a V. Excia. a respeito de manifestação de V. Excia. a respeito de estudo da Transparência Brasil sobre os custos das Casas parlamentares brasileiras.

Em sua manifestação, V. Excia. fez referência a argumentos oriundos da administração do Senado, destinados a desautorizar nosso levantamento. A esse respeito, gostaria de observar que as argumentações apresentadas não fazem sentido. Quando foram engendrados originalmente, em junho deste ano, endereçamos ao presidente da Casa, sr. Renan Calheiros, observações cujo teor passo a repetir.

A primeira reclamação é que o orçamento do Congresso Nacional incorpora o pagamento de aposentadorias e pensões, bem como impostos, e que isso não deveria ser contado como despesa.

Não percebemos a lógica desse pretexto. Despesas são despesas. É o contribuinte que paga por isso, e a responsabilidade é da Casa, não havendo possibilidade, aos nossos olhos, de atribui-la a outrem ou a circunstâncias intangíveis.

A segunda argumentação diz respeito à taxa de câmbio (cujo alegado defasamento responderia por distorções). Tal desculpa é particularmente infeliz. Conforme V. Excia. poderá verificar por consulta ao nosso relatório (www.transparencia.org.br/docs/parlamentos.pdf, pág.s 8 e 9), fazemos a comparação, entre países, do peso do custo para cada cidadão em relação a dois indicadores de renda (que é o que mais interessa): o salário mínimo e o PIB per capita. Isso independe de taxas de câmbio. Qualquer que seja a taxa de câmbio vigente, o custo de sustentar o Congresso Nacional brasileiro é de 0,18% do PIB per capita - 8,4 vezes o da Espanha, 5,7 vezes o dos EUA e assim por diante. É o mais alto peso da lista de países que investigamos.

O Brasil ocupa o topo da lista também se a medida é feita em relação ao salário-mínimo: cada brasileiro contribui anualmente com 0,66% de um salário-mínimo para sustentar o conjunto das duas Casas federais. Isso é dez vezes mais do que o observado na Grã-Bretanha ou na Alemanha. (Observe-se, a propósito, que mesmo descontando-se dos orçamentos das Casas legislativas os encargos previdenciários e tributários, como quer V. Excia., ainda assim os custos incorridos seriam exorbitantes.)

Como se vê, as argumentações formuladas pela administração do Senado, e repetidas por V. Excia., para justificar o custo extraordinariamente alto do Parlamento brasileiro não se sustentam.

Permito-me, ainda, anotar que o raciocínio que V. Excia. desenvolve, de que o mesmo mecanismo de cálculo deveria ser aplicado ao Judiciário, por exemplo, ou à Presidência da República (tomando por base o inteiro Orçamento do Executivo), ou aos ministérios, esta sim é indigente, causando-nos até surpresa que V. Excia. se tenha permitido desenvolvê-lo. O Judiciário e o Executivo contam com milhares de funcionários, custeiam estruturas múltiplas, prestam serviços de toda natureza.

Não posso deixar de repelir a alegação expressa por V. Excia. no sentido de que nosso objetivo seria “atacar a imagem do Parlamento brasileiro”. Nossa intenção, sempre, é fortalecer um Parlamento que, notoriamente, tem sido enfraquecido e afundado num descrédito cada vez maior por força da atuação por todos os títulos lamentável de tantos de seus integrantes. Para mencionar apenas uma entre tantas e tamanhas circunstâncias, no Senado pelo menos 37% de seus integrantes respondem na Justiça por processos criminais e/ou foram objeto de censura grave por Tribunais de Contas quando no exercício de funções públicas.

Na Câmara dos Deputados, a porcentagem desses parlamentares é de 33%. A situação nas Assembléias Legislativas estaduais segue esse mesmo padrão geral (ver detalhes em nosso projeto Excelências, www.excelencias.org.br). Assim, se V. Excia. se preocupa com a erosão brutal da imagem do Senado e do legislativo em geral, é inevitável assinalar que, para determinar as causas desse fenômeno, seu olhar deveria antes dirigir-se para dentro da própria instituição.

Não, senhor senador, nosso objetivo não é enfraquecer as instituições legislativas, mas iluminar aspectos da atividade parlamentar que a população tem o direito de conhecer, com o fito de levar mais integridade a organismos cruciais para o funcionamento da democracia representativa, integridade da qual Vv. Excias. são os primeiros a descuidar.

Observo que dar-se a conhecer não é algo que notabilize o Senado Federal. Conforme a Transparência Brasil já teve a oportunidade de observar por mais de uma vez, por meio de requisições dirigidas tanto a V. Excia. quanto ao senador titular da Presidência (ora respondendo a processo de quebra de decoro por acusações de máxima gravidade), a Casa recusa-se tenazmente a publicar informações sobre como os seus integrantes gastam as suas verbas chamadas “indenizatórias” (por si sós injustificáveis) ou mesmo se Vv. Excias. comparecem ao trabalho.

Sendo o que se apresenta, despeço-me,

Atenciosamente,

Claudio Weber Abramo
Diretor executivo

domingo, 18 de novembro de 2007

País sem comando e sem oposição: nojeira constituída


Alguma coisa está fora da ordem neste país. E aqui a ordem tem o sentido de equilíbrio social, de conduta e seriedade. Estamos vendo, mas não enxergamos e não damos conta do que está sendo debatido e apresentado em relação as negociações escandalosas do Governo para aprovação da CPMF.

São cargos e mais cargos colocados à mesa como dados em roletas de jogos de azar. Ganha quem mais barganha e quem mais podem pagar. É uma propina institucionalizada, legitimada e absolvida por todos os pares e ímpares do Congresso Nacional. É a consolidação da impunidade, roubalheira e canalhice, para usar termos menos indelicados.

Em paralelo, deputados federais fazem reformas nas suítes dos apartamentos que moram de graça, pagos com o dinheiro do contribuinte, e “ajustam” também uma empreitada nos gabinetes parlamentares. A vergonha ronda o carpete azul e verde do Congresso onde até mesmo as formigas, baratas e ratos recebem regalias que nem a periferia de Brasília pode imaginar.

Ainda em paralelo e em surdina há uma trama de gaveta onde nossos representantes da Câmara de Deputados, não satisfeitos com as benesses do cargo público, estão trazendo à baila uma emenda constitucional que aumenta de 51.875 para 59.514 o número de vereadores no país. Ou seja, os 5.562 municípios do Brasil vão ganhar mais 7.639 cadeiras. Mais vereadores para ajustar e compor redutos eleitorais para nossos deputados federais e aumentar o gasto do município para manter estes representantes de si mesmo....oh! do povo (?).

Quanto a esta manobra, arquitetada pelos nobres deputados, pouco ou quase nada está sendo investigado e apurado pelos jornalistas que disputam espaços com as formigas do Planalto atrás da mesma agenda do Governo.

Por muito menos... por muito menos a tão famosa oposição na verdadeira era petista (época em que FHC estava no poder, por exemplo) já tinha derrubado este cenário... já tinha partido pra luta...com bandeiras, gritos de guerra, deputados e senadores comprometidos (pelo menos se passavam como tal) com a real democracia estavam marchando de mãos dadas com estudantes, trabalhadores, sindicalistas, ONGs, MST e tantas outras instituições e associações que lutavam por uma sociedade mais justa e igualitária (com toda nostalgia que se tem direito...)

Cadê esse exército?

A nojeira está constituída neste país e pouco se pode fazer diante da falta de oposição combativa, impetuosa, guerreira, brava, enfática... pouco se pode fazer na ausência de uma imprensa instigante, provocativa e motivada a debater assuntos que estão ligados totalmente ao processo de redemocratização deste país. Onde está esta imprensa??

O grande questionamento é: verdadeiramente avançamos no processo de redemocratização? Em que condições?

sábado, 17 de novembro de 2007

Affonso Romano de Sant´Anna

A pesquisa me fascina. Por isso, assistindo hoje (17/11) o programa Sempre Um Bom Papo, na TV Câmara, acompanhei a entrevista/palestra do escritor Affonso Romano de Sant´Anna e tive uma vontade enorme de pesquisar e passar para os meus amigos blogautas a biografia desse intelectual, sábio e maravilhoso escritor que de tão sublime, consegue desvendar como pouco a alma da literatura, das artes plásticas e do imaginário humano.

Vejam neste link Releituras o resumo da vida desse grande e encantador escritor/poeta.
Vale a pena conferir.

O vôo da águia - Affonso Sant´Anna

Só pra matar a saudade... leiam esse texto extraído do jornal “O Globo”, Segundo Caderno, edição de 03/01/2001, pág. 8.
O tempo passou... estamos em 2007/2008 mas a vida parace está voltando nas coisas... no tempo... na necessidade de se buscar a essência...

O vôo da águia
Affonso Romano de Sant'Anna


Já que estamos nesse clima de recomeçar, com a alma limpa para novas coisas, vou iniciar transcrevendo algo que recebi. Havia pensado em outra crônica, coisa tipo "propostas para um novo milênio", como o fez Ítalo Calvino. Mas às vezes um texto parabólico, elíptico, pode nos dizer mais que outros pretensamente objetivos. Ei-lo:"A águia é a única ave que chega a viver 70 anos.

Mas para isso acontecer, por volta dos 40, ela precisa tomar uma séria e difícil decisão.Nessa idade, suas unhas estão compridas e flexíveis. Não conseguem mais agarrar as presas das quais se alimenta. Seu bico, alongado e pontiagudo, curva-se. As asas, envelhecidas e pesadas em função da espessura das penas, apontam contra o peito. Voar já é difícil.

Quer continuar a ler? Click aqui.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Vivendo de fazer negócios – o presidente da Associação de Bairro e sua candidatura a vereador

As portas ainda estão abertas para os interessados em mamar na teta da vaca municipal... opa! Teta é sinônimo de leite e falar de leite atualmente é complicado e danoso....

Voltando as portas abertas... isto é para explicar que os aproveitadores de planos associativos comunitários entram de porta a dentro e se apresentam como futuros vereadores, baluartes da moral, decência e ética (palavra tão usada fora da sua contextualização...) e que ao assumirem suas funções na Câmara de Vereadores, vão trabalhar, lutar e reivindicar pelos desejos e anseios da sua comunidade.

É João, Pedro, Maria e seja lá o nome que for anunciado que começa a aparecer na mídia como presidente da Associação de Bairro e mostrar as suas bandeiras de melhoria para o local.

Diante do exposto começa o processo de negociatas. Políticos interessados em determinado reduto eleitoral vai "derramar" benefícios (numa outra conotação é bem melhor falar de propina) ao presidente da associação para que o mesmo faça as relações cadastrais dos moradores do bairro com direito a nome completo e título de eleitor apenas para saber das “necessidades” dos mesmos e com isso poder ajudar de forma mais rápida e dinâmica.

Fazer negociatas escusas neste país é mais prático que empinar papagaio (pipa) e jogar queimando na rua.

Este assunto ainda volta à baila... aguarde...

Vivendo de fazer negócios – a reabertura do Shallako

O caso do Shallako, o retorno, a missão... ainda rende notícias. Mesmo por que a casa de negociata humana foi reaberta algumas semanas e tudo que aconteceu no passado -- suspensão do funcionamento determinado por Lei, prisão e outros acontecimento bombásticos -- fazem parte de um passado recente.

Com as portas abertas e as atividades retomadas a todo vapor, ou melhor, a todo calor, nada mais compreensivo que a impunidade fique mesmo no passado. Afinal, negociar pessoas não fazem mais diferenças hoje em dia.

Muito pelo contrário é prático, chic, elegante e faz parte do entretenimento dos maníacos voyeristas que fazem da atividade uma extensão obscura da sua personalidade através do fetichismo ligado ao espetáculo.

Tudo isso feito de forma legal, sob a égide de autoridades, Ministério Público e a sociedade em geral que finge não ver nem saber, parece ser mesmo um bom negócio.

Vivendo de fazer negócios – A luta pela conquista da CPMF


Incrivelmente pode-se ver, saber e anotar as negociatas que o consórcio governamental do governo Lula e seus compatriotas fazem para fechar e assegurar com a tão chamada oposição brasileira (que de oposição mesmo tem tudo contra a sociedade...) a votação “fechada” da CPMF.

O imposto, que de provisório virou permanente, é tido nas entrelinhas como uma mina de ouro. Podem-se ajustar muitas contas, inclusive as assistencialistas, arrecadando o dinheiro da movimentação financeira do povo.

Nesse contexto, o mais interessante é perceber a tão famosa oposição partidária dizer que é contra o imposto porque o dinheiro não segue para o seu objetivo principal, pelo qual o mesmo foi criado, a área de saúde e serve apenas para encher o cofre do governo. Paralelamente, esta mesma oposição faz ajustes, coloca na balança algumas “importantes” reivindicações do seu interesse e faz barreira fechada em não aprovar caso estas tão importantes solicitações não sejam aceitas.

Por outro lado, a tão esquerda rompante, impoluta, desbravadora que defendeu no grito, na garra e na coragem as necessidades básicas da sociedade brasileira há alguns anos, hoje posa de complacente. Afinal, o que foi dito ontem (no momento especial de luta) não passou de um momento especial de luta. Hoje, os interesses são outros.

E a mídia nesse contexto? Fica vendo a banda passar e muitas vezes assiste sentada na varanda da sua tela em rede que está muito mais conectada com os escândalos e aparições das celebridades emergentes, como é o caso de Mônica Veloso, e pouco ou quase nada se debruça em instigar o discurso para a sociedade.

É ... a negociata da CPMF vai render muitos dividendos para os votantes e eleitos. O governo que o diga.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Poesia para mudar o sentido...

Minha amiga Bet envia todo o domingo poemas e textos literários que nos apresentam novas possibilidades, questionamentos... e deixam a vida mais alegre...
O blog é também poesia....
Segue um deles abaixo...

Romance da Nau Catarineta

Por Bet

O "Romance da Nau Catarineta" é uma canção de 19 estrofes que narra as peripécias de uma longa travessia marítima de Brasil para Portugal, as calmarias que esgotaram os mantimentos, a sorte para sacrificar um dos tripulantes, a presença de tentação diabólica e a intervenção divina, levando a nau a um bom porto. "O comandante dessa viagem verídica foi o navegador Jorge de Albuquerque Coelho, filho de Duarte Coelho, fundador de Olinda e donatário da capitania hereditária de Pernambuco de 1534 a 1554; a Nau Catarineta, inclusive, partiu do porto de Olinda para Portugal", segundo narra Ariano Suassuna . Segundo também minhas pesquisas, Nau Catarineta' é o mais célebre e o mais mítico dos romances marítimos do cancioneiro lusitano. Xácara anônima, oriunda da segunda metade do século XVI, é a prova do nível estético, da síntese lírica, da sabedoria e economia dramáticas a que pode chegar a poesia anônima do povo em seus maiores momentos.

Romance da Nau Catarineta Recriação literária, por Ariano Suassuna

Ouçam, meu senhores todos, uma estória de espantar
Lá vem a Nau Catarineta
Que tem muito o que contar
Há mais de uma ano e um dia que vagavam pelo mar
Já não tinham o que comer
Já não tinham o que manjar
Deitam sortes à ventura quem se havia de matar: logo foi cair a sorte do Capitão-General
- Tenham mão, meus marinheiros.
Prefiro ao mar me jogar
Antes quero que me comam ferozes peixes do mar do que gente comendo carne do meu natural.

Esperemos um momento talvez possamos chegar
Assobe, assobe, gajeiro, naquele mastro real
Vê se vês terras de Espanha e areias de Portugal
- Não vejo terras de Espanha e areias de Portugal
Vejo sete espadas nuas que vêm para vos matar
- Vai mais acima, gajeiro, sobe no topo real
Vê se vês terras de Espanha, areias de Portugal
- Alvíssaras, Capitão, meu Capitão-General!
Já vejo terras de Espanha, areias de Portugal

Enxergo mais três donzelas, debaixo de um laranjal!
Uma, sentada a coser, outra na roça, a fiar, a mais mocinha de todas, está no meio, a chorar.
- Todas três são minhas filhas, ah, quem me dera as beijar!
A mais mocinha de todas, contigo a hei de casar.
- Eu não quero a vossa filha, que vos custou a criar.
- Dou-te meu cavalo que nunca teve outro igual.
- Não quero o vosso cavalo meu capitão-general.
- Dou-te a Nau Catarineta, tão boa em se navegar
- Não quero a Catarineta, que naus não sei navegar.
- Que queres então, Gajeiro? Que alvíssaras hei de dar?
- Capitão, eu sou o diabo e aqui vim vos tentar o que eu quero é vossa alma para comigo levar! Só assim chegais ao porto só assim vou vos salvar
- Renego de ti, demônio, que estavas a me tentar
A minha alma eu dou a Deus, e o meu corpo entrego ao mar
E logo salta nas águas, o Capitão-General
Um anjo tomou nos braços, não o deixou se afogar dá um estouro o demônio, acalmam-se o vento e o mar e à noite a Catarineta chegava ao porto do mar.

domingo, 28 de outubro de 2007

A desigualdade social contribui para violênica? Entrevista Maria Rita - Maita *



Questionar a desigualdade social como elemento contribuinte da violência urbana está em pauta na mídia. Também faz parte da discussão à função das nossas polícias, a formação dos “homens das fardas”, a violência dos grandes centros urbanos, o papel das instituições constituídas e nesse processo em qual direção segue a nossa sociedade. Sobre estes temas, a psicóloga e professora da UNEB em Juazeiro, Maria Rita do Amaral Assy*, conhecida no meio acadêmico e pelos amigos como Maita, fala um pouco dessas questões em entrevista exclusiva para o blog.

Longe de querer resolver todos os fatores atenuantes que se entrelaçam nessa complexa problemática social, Maita relata um pouco a construção ou o sentido de como produzimos, nós, sociedade, as diversas violências.

Teresa Leonel - A sociedade está insegura em relação às polícias militar e civil? A polícia, em geral, não tem credibilidade?

Maria Rita (Maita) - Pensando a sociedade como sendo as pessoas em geral: a relação das pessoas em geral com as polícias é muito ambígua, paradoxal. Não há um único sentido para o que sentem, pensam, esperam da polícia. É um bom campo de trabalho, bem remunerado para os padrões gerais, sério, de respeito etc. (cada vez mais os jovens mesmo graduados concorrem a vagas nas polícias). É também sentida como uma ameaça nas abordagens. É a encarnação da lei. É a corrupção em pessoa. Enfim, para pensarmos essa relação temos que saber de que momento, sob que condições iremos analisar.
Pensando a sociedade como o modo de vida e organização social vigentes: vivemos numa sociedade que tende a solucionar seus problemas e conflitos com a ferramenta ‘polícia’. Tanto delegamos as soluções às instituições policiais, como incorporamos um modo-polícia de lidar com tudo.

A política não é admirada toda vez que serve a um controle e repressão? Político bom é tanto aquele que a pretexto de uma transparência, vigia, controla, pune etc. como aquele que exerce a lei, ou até mesmo de onde emana o que deve regular a sociedade? Os furos na imprensa não são para denunciar crimes? O sensacionalismo que muitas vezes é característico da imprensa não estaria mostrando a vida como um drama policial? O bom pai não é aquele que detém o poder de polícia sobre seus filhos? O professor não segura a lista de freqüência, tira ponto, vigia, controla...?Mas não é fácil e ao delegarmos nossos destinos às polícias, nos enfraquecemos.

Perdemos armas, somos suspeitos, estamos sob a polícia. Ao sermos nós a polícia, nos distanciamos, desconfiamos, vivemos um jogo interminável de gato e rato na política, na escola, na imprensa, na família... Daí metemos o pau na polícia e tudo que vem dela, como que para reaver a nossa dignidade.
Veja que essas condições estão postas antes mesmo que a polícia, qualquer que seja ela, exerça sua função. De modo que detestamos e admiramos a polícia não importa o que faça. E a depender do que faz, tendemos mais a um lado do que a outro, normalmente não vendo o nosso envolvimento e cumplicidade.

Veja aqui entrevista completa.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Blog

Gente,
Uma dica interessante para leitura é o blog de Eduardo Ferreira com assuntos que vão de política à economia, passando por cultura e entretenimento. Ressalto ainda que muitos artigos e publicações são dos alunos de Jornalismo e Multimeios da Uneb-Juazeiro.
Além disso, Petrolina e Juazeiro estão em boa parte dos textos.
Vale a pena conferir.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Por que os políticos mudam de partidos? Parte 2


Sob a égide de que mudar de partido tem a ver a com o se adequar ao contexto real, do momento, os políticos querem sair de uma legenda para outra assim como pulam os macacos: de galho em galho. Considerando que o macaco não é racional e faz parte da sua característica o pula-pula de galho é preciso, sim, irracionalizar as atitudes dos nobres políticos para entendermos as diversas razões pelas quais eles agem.

Enumerando algumas dessas razões, percebemos, por exemplo, que os partidos em geral têm um mesmo fio condutor. Lutam por igualdade, ideologia, pelo tripé saúde-educação-habitação e como agregado a questão da segurança pública. Fazem da bandeira igualdade-liberdade-fraternidade um discurso memorável e alguns dos líderes estão sempre dispostos a “morrer por esses ideais”.

Em determinado momento a conjuntura política muda. Quem era poder virá oposição e vice-versa. Os acordos e trocas de favores começam a ser expostos. É hora do pega lá, pega cá interminável. Em surdina pelos corredores municipais, estadual e federal os conchavos acontecem de forma agressiva. Isto é meu e isto é seu. Em troca lhe garanto tantos votos ou então abro ou fecho a pauta de votação.

Acordos fechados e cargos espalhados vamos para segunda etapa: as grandes negociatas financeiras. Sim, porque vamos entender a participação de pessoas de foro íntimo dos políticos em cargos estratégicos no serviço público. Quem faz o que, aonde faz, com quem faz e as razões pelas quais faz.
Nada mais elementar meu caro leitor.

Mas para quem é mesmo que os políticos trabalham? Trabalham pelas suas conveniências pessoais, intransferíveis. Trabalham para se manter no poder e usar a máquina publica em causa própria. Lutam por melhores salários para seus bolsos. Compram “pessoas” e fazem negócios escusos visando se aparelhar cada vez mais de tecnologia e recursos para movimentar e manter a máfia.

Mudar de partido é apenas uma ponta desse iceberg. Afinal a indústria dos grupos criminosos invadiu o celeiro político para ditar as suas regras de poder. Nesse contexto os verdadeiros e honrosos representantes políticos (se é que ainda estão vivos nesse lamaçal) foram apagados do cenário midiático e quase não têm voz para denunciar.

E a nós, eleitores, quase que inertes diante desse caos, ainda restam, pelo menos, uma arma de guerra fatal: o nosso voto. Com ele somos imbatíveis.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Pra não dizer que não falei mais do Renan e Mônica...


Por que os políticos mudam de partidos? Parte 1



Numa eleição existem os aliados de um lado com interesses e objetivos em comum. Na outra ponta tem um outro grupo que é contra os interesses do grupo opositor.

As peças do tabuleiro eleitoral começam a ser mexidas e posicionadas quase um ano e meio antes da eleição. O jogo é complexo porque são muitos egos a serem administrados e poucos espaços para alocar tanto narcisismo.

Na disputa, o discurso agressivo, o baixo nível do debate e a lavagem de roupa suja vão tudo pra rua. A arena é na Tv, nos planfletos, no outdoor, no corpo-a-corpo nas ruas e nos debates nas universidades e escolas.

Quem tem a melhor plataforma de trabalho? Quem tem as melhores condições de assumir a função parlamentar? Qual dos candidatos tem as melhores intenções para fazer do seu mandato uma obra em favor da sociedade?

Até então, o que está valendo é o conceito de se fazer o melhor discurso para conquistar uma parte dos eleitores.
Quanto mais se aproxima do pleito, mas as peças do tabuleiro são mexidas.

Numa estratégia de jogo podemos encontrar inimigos ferrenhos de longas datas que jamais se sentariam juntos numa mesma mesa de restaurante, mas por amor ao povo, estão coligados-associados-consorciados para unificar a força e subirem todos a tribuna das casas legislativas. Por amor ao povo os ex-inimigos, hoje, são amigos íntimos de berçário.

Encontramos os oportunistas de “sombras” que rondam e rondam determinadas figuras do meio político para ficar ao lado dele e usar seu prestígio e o seu dinheiro durante a campanha. Também temos os navegadores. Àqueles que vão de um lado para o outro conforme a onda levar.

Há os que gostam de fixar residência no partido e tomar conta da base de sustentação para determinar quem entra, quem sai e quem deve ou não ser convidado a aguardar um pouco na fila até chegar a vez.

Existem aqueles que se elegem por um grêmio ou um conjunto de associados e agregados e depois debandam para o partido que antes era oposição. Tudo isso para não perder as benesses que só mesmo os que estão no topo dos governos municipais, estaduais ou federal podem obter.
É o efeito cascata da pós-eleição.

Conquistados o poder os interesses mudam. Mudam o discurso, a ação e muda o conceito do que é integridade, fidelidade e bandeira ideológica.

(continua...)

domingo, 14 de outubro de 2007

Tropa de Elite - O filme

Vale a pena postar esta entrevista do co-roteirista do filme Tropa de Elite, Rodrigo Pimental, publicado no Jornal do Commercio de hoje.

Notícias de uma guerra perdida

Em 1997, o então capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro Rodrigo Pimentel deu uma entrevista ao cineasta João Moreira Salles para o documentário Notícias de uma Guerra Particular. De lá para cá, a vida de Pimentel, hoje com 36 anos, mudou completamente.

Há sete anos fora da PM, o ex-oficial fez pós-graduação em sociologia, escreveu um best-seller e co-roteiriza o arrasa-quarteirão nacional Tropa de Elite. Nessa entrevista, por telefone, ao repórter Eduardo Machado, Pimentel comenta os bastidores do filme e põe na conta de toda a sociedade o estado de violência em que vivemos. Ele estará amanhã no Recife a convite do blog PEbodycount. O evento será realizado às 19h, na Faculdade Maurício de Nassau, na Rua Guilherme Pinto.

JORNAL DO COMMERCIO – Atualmente onde você trabalha?
PIMENTEL– Em um banco privado, na área de segurança.

JC – Desde quando?
PIMENTEL – Desde que saí do Bope e pedi baixa da polícia em 2000.

JC – Como é sua relação hoje com a polícia?
PIMENTEL – Com uma parte dos policiais que se identificaram e gostaram do filme é muito boa. Recentemente, uma associação de militares do Estado daqui do Rio de Janeiro me concedeu uma medalha, medalha que durante a minha vida na ativa como policial eu nunca ganhei. Com a outra parcela da polícia, a relação é tensa, é ruim. É muito legal também que o PM de forma geral virou um aliado do filme. Se você vê a comunidade do Orkut da PMRJ, os comentários favoráveis ao filme são quase que maioria absoluta. Você chegou a ver o filme?

JC – Sim.
PIMENTEL – Tem uma cena lá que o PM tem que pagar para entrar de férias. O policial militar não se vê como aquele que cobra para o outro, mas sim como o PM que está sendo extorquido. E ainda que ele se enxergue mais na frente como corrupto, ele entende que o contexto, as circunstâncias, é que o levaram a isso.

JC – Compreendo...
PIMENTEL – Tem mais. O Bope nunca havia desfilado no Sete de Setembro. Existe desde 1981 e em 26 anos de idade nunca havia desfilado no Sete de Setembro. Este ano, o comandante da Polícia Militar determinou ao comandante do Bope, coronel Pinheiro Neto, que desfilasse no Sete de Setembro, resultado: a tropa foi ovacionada, foi aplaudida de pé. As pessoas no Rio de Janeiro vivem um momento de indignação com a violência tamanha que começam a heroicizar o Bope, o capitão Nascimento. Eu nunca pensei que isso iria acontecer. Achei que as reações iriam ser outras.

JC – Falando nisso, o que você achou do artigo de Luciano Huck (no qual o apresentador, após ser assaltado, queria que chamassem o capitão Nascimento)?
PIMENTEL – Eu mandei uma carta para o jornal O Dia, na qual eu disse para o Luciano Huck que o Pacto Social vigente no País hoje mão permite que a gente ande de Rolex pela rua. Ele chama a Tropa de Elite para proteger a elite e para proteger o patrimônio da elite. Mas ele esquece que num País com tamanha desigualdade social, o pacto social firmado por nós mesmos, não permite que a gente ande de Rolex. Não permite que a gente ande com um carro de R$ 200 mil reais, sem que ele seja blindado. Então, Luciano Huck diz assim: ou a gente investe em mais escolas ou a gente chama o capitão Nascimento. Não há meio termo. Ele esquece que um investimento maciço em educação, que é um investimento que só retornará a longo prazo, e o capitão Nascimento que é torturador e mata bandidos, entre essas duas coisas tem a polícia investigativa, tem a polícia científica, tem um sistema prisional de melhor qualidade, uma reformulação no Código Penal, tem a questão da impunidade... Então achei que ele foi muito infeliz. Tenho certeza de que ele é uma pessoa de boa índole, tenho certeza de que ele estava tomado por um ódio momentâneo, mas a verdade é que naquele dia que o Luciano Huck foi assaltado, outras 480 pessoas foram assaltadas na grande São Paulo. Sei que ele é um cara do bem, que desenvolve ações sociais, é uma pessoa que está preocupada em ajudar os outros é uma pessoa altruísta, acho que faltou ali alguém para segurá-lo na hora em que ele resolveu falar com os jornais.

JC – Quanto de você tem no capitão Nascimento?
PIMENTEL – Olha só, aqueles dramas vividos pelo Nascimento, dramas familiares, vontade de sair do batalhão, pragmatismo, estresse, aqueles dramas são comuns a todos os policiais do Bope. O oficial do Bope permanece naquela unidade cinco, seis anos, às vezes sete anos, numa rotina de operação em favela quase dia sim, dia não. Então eu busquei nos meus dramas pessoais, mas nos dramas de amigos também aquelas situações. Somei cinco ou seis histórias de policiais da unidade para fazer a composição daquele personagem. Os resultados foram interessantes. Meu filho não nasceu durante uma operação. Meu filho nasceu eu estava em casa com a minha esposa. Porém, um oficial do Bope me ligou e disse: “Pô Pimentel, obrigado pela homenagem, meu filho nasceu na operação e tal”. Eu não tive uma discussão calorosa com a minha esposa como aquela. Porém, a esposa de um amigo meu me ligou e disse: “Pimentel, parece que você assistiu a nossa briga”. Eu não tomei Diasepan, mas eu tomei Rivotril. O colega que tomou Diasepan me ligou e agradeceu. Qual é a conclusão? Os dramas eram comuns a todos.

JC – A gente conversando agora em um certo momento você disse que Nascimento era um assassino de bandidos. Existe assassino de bandidos ou existe assassino?
PIMENTEL – Não, olha só... Puxa vida, que difícil você me perguntou agora, cara. Vamos lá. Em um determinado momento, a minha geração de oficiais acreditou que a guerra tinha solução. Que a gente podia ganhar a guerra. Em algum momento, a minha geração acreditou que operações noturnas, com alto grau de letalidade, com enfrentamento aos traficantes poderia inverter o jogo no Rio de Janeiro, poderia mudar o que a gente vê no Rio de Janeiro. O que acontece é que depois de dois anos, o oficial começa a perceber que essas operações são uma grande besteira. Que você subir na favela de madrugada, trocar tiro com traficante para apreender 100 gramas de cocaína, duas pistolas, 100 gramas de cocaína e uma metralhadora, quando na verdade aquela favela tem 50 metralhadoras, 50 fuzis, 50 traficantes... Você começa a perceber que você está enxugando um grande gelo...

JC – Só para ilustrar, aqui no Recife se a polícia faz uma operação e apreende-se duas pistolas e uma metralhadora é um acontecimento...
PIMENTEL – (Risos) Então, quando a pessoa participa dessas operações, acreditando que está fazendo aquilo em benefício da sociedade, eu não diria que essa pessoa é um assassino. Acho que ela realmente tá combatendo com um ideal. Agora, depois que ela é orientada e entende que aquela guerra ali é uma guerra perdida. Que não é daquela forma que ela vai combater o narcotráfico. Se ela persistir no erro, acho que já é sadismo. Mas voltando a sua pergunta, se existe um assassino do bem e um assassino do mal, eu diria que quem mata sem ódio, quem matou bandido acreditando que estava fazendo um benefício para a sociedade, na pura ingenuidade dos vinte e poucos anos, eu não chamaria essa pessoa de assassino.

JC – Mas você vê, por exemplo, a transformação que o aspirante Matias passa no filme. Ele é totalmente respeitador das regras no começo e, depois, ele se torna também um carniceiro...
PIMENTEL – O Matias foi seduzido pela loucura do Nascimento. Um cara totalmente louco. Ele preferia o Neto, mas ele trouxe o Matias para o lado dele. A gente queria mostrar que o Matias chegou ao Bope ingênuo e a gente mostra que o sistema da violência consegue tragar ele. Ele pensa que vai ser um cumpridor da lei e não é o que acontece. Uma coisa meio louca de entender. Eu estou de manhã numa favela matando jovens que vendem maconha e de noite numa festa com jovens que fumam maconha. Sabe, então esse dilema eu vivi. O Matias viveu, é muito doido. O filme leva a uma discussão maior que é a liberação das drogas. Acho que o filme tem uma coisa importante... F... não vou concorrer ao Oscar, gostaria muito de concorrer...

JC – Mas no ano que vem não tem outra chance?
PIMENTEL – Pode, mas aí vai ter que disputar na categoria principal com os filmes de Hollywood. É mais difícil, competir como filme doméstico americano. Perdi lá para Cao Hamburger que é um filme legal e tal, mas o meu consolo hoje é que a gente colocou na pauta do brasileiro a discussão da Segurança Pública. F... que é por duas ou três semanas, mas estamos debatendo Segurança Pública.

JC – Tropa de Elite é um filme para se ver quadro a quadro?
PIMENTEL – Essa questão de bater em todos, de não poupar ninguém é porque todo mundo tem culpa nessa p... A culpa da situação de violência em que vivemos é da corrupção, da impunidade, da sociedade, do Senado, da gente que não escolhe bem... Aí vem alguém e diz que é por causa da classe média que fuma maconha. É também, mas tem ainda o consumismo, o desemprego, a falta de transporte...

Poeta não morre nunca...

Foto: Divulgação

Recebi esta obra prima poética da minha amiga Bet. Exatamente para não esquecermos que a poesia não morre. O poeta foi... mas a palavra está aqui.



Canto dos Emigrantes

Alberto da Cunha Melo (1942-2007)


Com seus pássaros
ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.

De uma quadra a outra do tempo,
de uma praia a outra do Atlântico,
de uma serra a outra das cordilheiras,
todos emigram.

Para o corpo de Berenice
ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico,
para dentro de si
ou para todos,
para sempre todos emigram.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Nasce o poeta - Ferreira Gullar

Minha amiga Bet passou esta obra para mim via e-mail. Não resisti e postei aqui para compartilhar com todos. Bet diz:

Como num sorteio, enfiei a mão no meu "saco" de poesias, e um recorte de 1999, do jornal Gazeta Mercantil, de São Paulo, publicava este poema, retirado do livro "Muitas Vozes" de Ferreira Gullar que Daniel Piza considera "O melhor livro de poesia da década"...
Metalinguagem mais uma vez, a nos chamar para os ossos do ofício, seja poeta, seja leitor... O final é surpreendente, uma carapuça às avessas, e entre falhas e falas vamos vivendo...

Vejam a poesia abaixo...
Nasce o poeta
Ferreira Gullar

No princípio
era o verso
alheio

Disperso
em meio
às vozes
e às coisas
o poeta dorme
sem se saber

ignora o poema
não tem nada a dizer


o poema péssimo
revela
ao ser lido
que há no leitor
um poeta adormecido


o poema péssimo
(por péssimo) pode
ter comovido
inda que errado
em sua emoção
inda que truncado
em sua dicção

ele guarda um barulho
de quintal, de sala,
de vento ou de chuva
de gente que fala
ivo viu a uva

o poeta ao ler
o péssimo poema
nele não não se vê


na palavra ou verso
onde não se lê -
se lê ao reverso
em seu vir a ser

e assim vira ser

já que a escrita cria
o escrevinhador:
soletra na pétala
o seu nome: flor

o mundo que é fácil
de ver ou pegar
é difícil de ter:
difícil falar
a fala que o dá

e a fala vazia
nem é bom falar

se a fala não cria
é melhor calar

ou - à revelia
do melhor falar -
falar: que a poesia
é saber falhar

"Preguisa baiana" é faceta do racismo...

O tema foi defendido na tese de doutorado da professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, em setembro deste ano. O texto foi repassado pra mim pela professora Giovanna de Marco (Uneb-Juazeiro), que recebeu do amigo Almir Costa Amorim Junior, de Petrolina. O mesmo fez o seguinte apelo: "faça-me o favor de encaminhar este e-mail ao maior número possível de pessoas. Para que, desta forma, possamos acabar com este estereótipo de que o baiano é preguiçoso. Muito pelo contrário, somos dinâmicos e criativos. A diferença consiste na alegria de viver, e por isso, sempre encontramos animação para sair, depois do expediente ou da aula, para nos divertir com os amigos".

A famosa 'malemolência' ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendida na USP. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos.
A tese sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de 'festa eterna'. Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. 'Quem se diverte é o turista', diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas, que a magem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia. O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência.

A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista. A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão??? ?). Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos.

Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de 'proteção' dos seus empregos. Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. 'Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil', diz Elisete.

Até Caetano se contradiz quando vende uma imagem e diz: 'A fama não corresponde à realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo'. Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente 'Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades.'

O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América latina. Para tirar as conclusões acerca da origem do termo 'preguiça baiana', a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho.

O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia). Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada).

Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil). Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados 'desocupados' (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13°lugar. Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado.

O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos,financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Monica Veloso e as mudanças radicais

R.Duran

ANTES
Dormia com um conhecido e acordava sozinha.
Buscava projeção, destaque, poder.
Absorveu e usufruiu das benesses que a política-poder proporcionam.
Fez escalas de valores, escolheu amigos e pessoas que compactuaram com suas idéias e outras que pularam pra fora antes que tudo fosse para o ventilador.
Escreveu algumas linhas imitando atitudes jornalísticas e se fez de importante ao assumir apresentação na vênus prateada de Brasília.
Aproveitou as “oportunidades oportunistas” e enveredou para o marketing político como visão estratégica de crescimento numa cidade onde quase tudo (quase) cheira a politicagem.
Com toda esperteza fez um fruto (já sabido) de uma relação extraconjugal para se alimentar de dividendos posteriores.

DURANTE
Posou de vitima das circunstâncias.
Pensou no futuro das filhas.
Teve a vida virada de cabeça para baixo e resolveu pisar no acelerador das “oportunidades oportunistas”, novamente...
Se fechou para os questionamentos da grande mídia e soltou algo ali e aqui para uns e não outros veículos.

HOJE
Resistiu (???) e depois aceitou posar de forma “artística” para Playboy com o discurso de que muitas mulheres midiaticas já fizeram tais exposições e não tiveram conseqüências profissionais depois.
Mostrou os atributos físicos para que todos pudessem conhecer as armas que usou para conquistar “oportunidade e poder”.
Agora circula pela grande mídia para convencer e se converter ao seu próprio discurso, justificando que antes de tudo ela foi jornalista, produtora, professora universitária ....
Ganhou outros tipos de amigos e perdeu vários.
Registrou tudo num impresso para ficar na história escrita e nas vitrines das livrarias nacionais.
Fez mudanças geográfica, corporal e da mente. É outra mulher.
Alias, a MULHER QUE ABALOU A REPÚBLICA é uma referência para tantas que gostariam de seguir este mesmo exemplo triunfante de subida/descida de poder.

Entre o comum, singular e o diferente estão as anuências estabelecidas pelas regras de mercado da promiscuidade. Uma delas parece ser a entrada triunfal de determinadas gravuras no centro das atenções midiaticas nacional (e internacional). A outra tem a ver com a velocidade vertiginosa que é proporcionada pela queda dessas gravuras.

É realmente incontável.

Quando as palavras continuam soltas

Parece que jogar com as palavras e seus diversos significados temporal tem sido uma dinâmica constante de alguns intelectuais, escritores, jornalistas de sites ou revistas “alternativas”, tipo Caros Amigos, Carta Capital, para citar algumas.

“Nunca antes na história desse país” houve tanto debate sobre “ética”, “moral” e “decência” de forma coloquial, desprovidas de contextualização e justificativas para arrumar explicações nada cabíveis de desvios de condutas ou algo semelhante.

“Nunca antes na história desse país” se apresentou tantos episódios de corrupções em governos anteriores, sobretudo o de Fernando Henrique Cardoso e seus compatriotas, para justificar os desvios de condutas e quebra de decoro do governo atual.

“Nunca antes na história desse país” a mídia foi alvo de tanta reflexão, xingamento, desconfiança, bombardeio quanto à credibilidade e tendências partidárias.

A despeito do que verdadeiramente se propõe os defensores da honradez e moral dos atos políticos praticados pelos pregadores da decência, vale aqui um passeio pelo livro de Roger Silverstone (1) no seu questionamento sobre as razões pelas quais se estuda a mídia.

Silverstone explica que a mídia tem o “poder de mudar o equilíbrio de forças: entre Estado e cidadão; entre país e país; entre produtor e consumidor... trata-se apenas de propriedade e controle: o quem, o quê e o como... de sustentar significados; de persuadir, endossar, reforçar... o poder de minar e reassegurar. Trata-se de alcance e de representação: a habilidade de apresentar, revelar, explicar; assim como a habilidade de conceder acesso e participação. Trata-se do poder de escutar e do poder de falar e ser ouvido”.

Muito além do que imaginamos, estamos sim vivendo um conflito de idéias e conceitos ideológicos. Afinal, foi dentro dos centros acadêmicos que muitos dos pensamentos renovadores, criadores pra não dizer neoliberal, pós-moderno ou contemporâneo foram construídos, debatidos de forma exaustiva para finalmente ir para as ruas e conquistar o poder. Muitos dos intelectuais acadêmicos estão taciturnos, meditabundo, cabisbaixo, calados, omissos, inertes... aguardando o porvir.

É natural. Os nossos questionamentos estão em conflitos: o que é esquerda e direta hoje; quais as instituições que estão comprometidas com o cidadão; quais os movimentos sociais que estão representando o coletivo, o conjunto de pessoas; a quem podemos empregar rótulos de credibilidade, confiança, altivez; quem é nosso inimigo real e virtual; que armas (simbólicas ou não) podemos usar contra as palavras, o discurso, os conceitos...

O grande questionamento é: contra quem estamos lutando?
Jogar as palavras de forma aleatória para atirar em um ou outro, pode não ser realmente o caminho certo. Resta então, exercitar o debate nas escolas, universidades, sindicatos, associações, ONGs e tantas outras instituições que representem de fato e de direito os interesses da maioria da sociedade para que possamos visualizar possibilidades de mudanças.

Em nada ganharemos com o radicalismo das convenções absolutas, onde estamos colocando a mídia, por exemplo, como a grande vilã dos acontecimentos horrendos. Até onde podemos compreender a grande imprensa não criou quadros de pessoas detentoras de mensalões, falcatruas e falta de decoro parlamentar.

É preciso creditar a quem de fato cabe tais responsabilidades para que possamos rever nossos conceitos de honradez e decência. É necessário também instigar a grande imprensa ao debate para que ela não adormeça ou passe por cima dos acontecimentos de forma arrogante, intocável e infalível. Fato totalmente irreal.

Possivelmente, dessa outra maneira de fazer as coisas construiremos uma nova realidade a partir desse novo olhar.

(1) SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia. São Paulo: Loyola, 2002.p.263

domingo, 7 de outubro de 2007

Renangate X títulos cinematográficos


Dos títulos cinematográficos para a representação na vida real. Uma justa homenagem a resistência humana de alguém que muito longe de brilhar como estrela, ofusca a dignidade deste país.

O caso Renangate nos remete a alguns títulos. Apenas remete...

- Vitímas de Um Maníaco (Suspense/EUA/2007/Direção Bem Waller)

- À Beira da Loucura (Comédia/EUA/1999/Direção Alan Rudolph)
- O Acerto de Contas (Ação/EUA/2000/Direção Paul Wynne)
- Demolidor - O Homem Sem Medo (Aventura/EUA/2003/ Direção Mark Steven Johnson)
- Do Outro Lado da Lei (Drama/ARG-CHI-FRA-HOL/2002/Direção Pablo Trapero)
- Duro de Matar 3: A Vingança (Ação/EUA/1994/Direção: John McTiernan)

Isto é real?


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Jogando com as palavras em defesa de Renan


Nos últimos meses e puxando um pouco a partir dos escândalos do Governo de Lula, seqüências de frases e palavras soltas são produzidas e repetidas diversas vezes por personagens da política, intelectuais e estudantes que contribuem para uma nova reflexão sobre o uso dessas palavras de forma aleatória ou não. (?)

A exemplo do próprio presidente da Republica que levantou o bordão “ nunca antes na história desse país...”, seguindo a fila vem seus correligionários como José Dirceu e assemelhados que usam a expressão “mídia golpista” e “a imprensa partidária”. O complemento das frases com predicado direto ou não está sempre associado às palavras soltas e muitas vezes não contextualizadas, tipo: ética, moral, honestidade... só pra citar algumas.

Esse “fenômeno “ de sintaxe serve, no mínimo, para entendermos as razões pelas quais a sociedade aceita determinados movimentos de forma natural. Um exemplo claro seria um candidato a deputado ou senador colocar no seu site ou cartaz algumas frases de efeito: “ sou honesto, defendo a moral e a decência” , “sou contra a corrupção”, “minha vida é um livro aberto” , “nada tenho a esconder”, “ a minha honradez é conhecida por todos”...

Estas perolas textuais nos remetem a uma grande indagação: o decoro na aparência, conduta, respeito e compostura tem quer ser apresentado e vendido?

Jogando com as palavras estamos perdendo as nossas referências. Ontem conseguimos ler textos de personalidades, professores e intelectuais que defendiam os significados das palavras “ética” e “moral” exemplificando pessoas que foram referências (de fato e de direito) nesse país. Hoje, alguns desses mesmos intelectuais querem justificar as atitudes do então senador Renan Larápio Corrupto Calheiros usando estas mesmas palavras.

Acusado e absolvido (absurdamente) de usar um lobista para pagar despesas de uma filha com a então jornalista playboiana Mônica Veloso, fez negociatas no minimo duvidosas na compra de duas rádios e uma emissora de jornal por meio de "laranjas" em sociedade com o usineiro João Lyra nas Alagoas o senador Renan ainda é suspeito de coletar propina em ministérios chefiados pelo PMDB. É pouco???

Ainda assim, muitos e muitos intelectuais que também apontam a mídia golpista de querer derrubar Renan (tadinho... estou até com pena dessa injustiça....!!!), fazem jogos de palavras para tentar explicar o inexplicável. Até onde se sabe, qualquer pessoa corrupta é corrupta em qualquer lugar.

E mais, justificam e comparam os processos anteriores de ladroagem com os atuais e ainda dizem que isso sempre ocorreu na política e que o Renan não é o primeiro (muito menos o último). A pergunta é simples: justificar um erro com outro é lícito? O que vamos ganhar com isso? Mostrar pra sociedade que a impunidade compensa?

Precisamos, realmente, rever nossos conceitos. Quando começamos a acreditar que o desenvolvimento econômico é mais importante do que o estado de direito, verdadeiramente estamos tirando a liberdade e as possibilidades da sociedade e matando a democracia.

A guerra entre poderes: Record X Globo

Não é nova a guerra pelo domínio de mercado entre as emissoras de TVs. A novidade, possivelmente, é a Globo ficar “incomodada” tão abertamente com a concorrente Record.

O mercado ainda olha de fora a briga. Afinal, a Record numa jogada pela tangente entrou na última quinta, 27, com um canal de notícias forte, no sentido de possibilitar ao público uma escolha gratuita de obter informação do Brasil e do mundo durante 24 horas.

Nesse novo cenário de imagem, som, informação e do poder manipulador que a mídia TV tem no país os questionamentos são muitos.

Como fica a guerra da audiência? Qual o próximo passo da Globo para abocanhar ou não perder parte da fatia do mercado? O que pode acontecer com as demais emissoras? Que estratégias elas pretendem traçar para se firmarem ainda mais no mercado?

Algumas dessas questões poderão ser respondidas antes mesmo que a Record suba mais no topo do poder.

Como telespectador o que esperamos mesmo dessa salada toda é que o compromisso com a informação seja a prioridade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007


Bebel no Senado - Dad Squarisi - Correio Braziliense

"Muitos riram. Mas houve os que choraram. O último capítulo de Paraíso tropical levou servidores do Senado às lágrimas. A Câmara Alta substituiu o calçadão de Copacabana. Bebel, fantasiada de Evita, depõe numa fictícia CPI dos Combustíveis. Suas Excelências esbravejam.

Acusam-na de laranja que teria recebido mesadinha de usineiro beneficiado por emendas no Orçamento. Ela ri. Entre irônica e ingênua, diz que se tornou empresária sem saber. Teúda e manteúda de um senador da República, avisa que posará pra Playboy, mas será nu artístico. O sonho da agora prostituta de luxo é ser apresentadora de tevê.

Ficou clara a referência ao dramalhão Renan Calheiros. Reações? Wellington Salgado & companhia corporativista se irritaram. A cena seria “forçação de barra cujo propósito é desconstruir o Senado”. Fingiram ignorar que, no caso, a arte imita a vida. É a vida que enxovalha a instituição. Há quatro meses circula de tudo pelos tapetes azuis da casa: transformação de gabinete em motel, tráfico de influência, lobistas fazendo a festa, troca de votos por cargo. Pior: ao absolver Renan da acusação de quebra de decoro, a maioria julgou as práticas normais. Que bofetada nos brasileiros, hein?

De quebra, as excelências escancararam as portas para a tese defendida pelo PT — a extinção do Senado. A proposta soa como música aos ouvidos dos cidadãos cansados de pagar impostos pra “financiar safadezas”. Há, porém, um pormenor. Indignação afeta a memória. O Senado representa os estados. Ali, cada uma das 27 unidades da Federação tem três representantes. É diferente da Câmara, cujas bancadas são proporcionais ao número de habitantes. O Senado é, pois, ponto de equilíbrio. Sem ele, os grandões (São Paulo e Minas) se tornarão donos do pedaço.

Mais: o Executivo nadará de braçadas. É o ensaio do chavismo.

O Congresso tem 81 senadores e 513 deputados. Quando pipoca um escândalo, contamina-se a instituição. Estrago após estrago, dá-se munição pra fechar o Senado. Depois, a Câmara. Sem um alicerce do tripé, a democracia vira ditadura. Daí o choro dos servidores. Eles sabem: os parlamentares passam. A instituição fica. Mas a atual legislatura quer apagar a luz. Investe pra ser a última a sair".