Por Bet
O "Romance da Nau Catarineta" é uma canção de 19 estrofes que narra as peripécias de uma longa travessia marítima de Brasil para Portugal, as calmarias que esgotaram os mantimentos, a sorte para sacrificar um dos tripulantes, a presença de tentação diabólica e a intervenção divina, levando a nau a um bom porto. "O comandante dessa viagem verídica foi o navegador Jorge de Albuquerque Coelho, filho de Duarte Coelho, fundador de Olinda e donatário da capitania hereditária de Pernambuco de 1534 a 1554; a Nau Catarineta, inclusive, partiu do porto de Olinda para Portugal", segundo narra Ariano Suassuna . Segundo também minhas pesquisas, Nau Catarineta' é o mais célebre e o mais mítico dos romances marítimos do cancioneiro lusitano. Xácara anônima, oriunda da segunda metade do século XVI, é a prova do nível estético, da síntese lírica, da sabedoria e economia dramáticas a que pode chegar a poesia anônima do povo em seus maiores momentos.
Romance da Nau Catarineta Recriação literária, por Ariano Suassuna
Ouçam, meu senhores todos, uma estória de espantar
Lá vem a Nau Catarineta
Que tem muito o que contar
Há mais de uma ano e um dia que vagavam pelo mar
Já não tinham o que comer
Já não tinham o que manjar
Deitam sortes à ventura quem se havia de matar: logo foi cair a sorte do Capitão-General
- Tenham mão, meus marinheiros.
Prefiro ao mar me jogar
Antes quero que me comam ferozes peixes do mar do que gente comendo carne do meu natural.
Esperemos um momento talvez possamos chegar
Assobe, assobe, gajeiro, naquele mastro real
Vê se vês terras de Espanha e areias de Portugal
- Não vejo terras de Espanha e areias de Portugal
Vejo sete espadas nuas que vêm para vos matar
- Vai mais acima, gajeiro, sobe no topo real
Vê se vês terras de Espanha, areias de Portugal
- Alvíssaras, Capitão, meu Capitão-General!
Já vejo terras de Espanha, areias de Portugal
Enxergo mais três donzelas, debaixo de um laranjal!
Uma, sentada a coser, outra na roça, a fiar, a mais mocinha de todas, está no meio, a chorar.
- Todas três são minhas filhas, ah, quem me dera as beijar!
A mais mocinha de todas, contigo a hei de casar.
- Eu não quero a vossa filha, que vos custou a criar.
- Dou-te meu cavalo que nunca teve outro igual.
- Não quero o vosso cavalo meu capitão-general.
- Dou-te a Nau Catarineta, tão boa em se navegar
- Não quero a Catarineta, que naus não sei navegar.
- Que queres então, Gajeiro? Que alvíssaras hei de dar?
- Capitão, eu sou o diabo e aqui vim vos tentar o que eu quero é vossa alma para comigo levar! Só assim chegais ao porto só assim vou vos salvar
- Renego de ti, demônio, que estavas a me tentar
A minha alma eu dou a Deus, e o meu corpo entrego ao mar
E logo salta nas águas, o Capitão-General
Um anjo tomou nos braços, não o deixou se afogar dá um estouro o demônio, acalmam-se o vento e o mar e à noite a Catarineta chegava ao porto do mar.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
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Pelo menos isso mostra que há caminhos menos complicados... ah! como é bom poesia....
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