quinta-feira, 18 de junho de 2009

Profissão: jornalista (já era!)


Agora jornalista é qualquer um. Depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a obrigatoriedade do diploma jornalístico e jogou na lama os cursos universitários e os estudos acadêmicos nesse campo, vários precedentes foram abertos.

Qualquer pessoa que escreve pode se achar jornalista e ponto. É contratada pela empresa que não precisa pagar piso salarial para categoria e pode colocar quem ela achar interessante para escrever qualquer coisa. Até mesmo sobre direito civil, constitucional.

Sinto—me hoje capaz de defender qualquer ser humano juridicamente(!)na medida em que me aprofundo nas Leis e tenho como pano de fundo a Constituição Brasileira que diz que toda pessoa é inocente até prova o contrário.

E pensando dessa forma, os ministros do Supremo não ficarão espantados quando abrirem os jornais e depararem com textos eloquentes, bem construídos e de amplo domínio sobre determinadas temáticas produzidos pelos dois maiores narcotraficantes presos no país, o brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e o colombiano Juan Carlos Abadía, conhecido como Chupeta.

Se "o jornalismo e a liberdade de expressão são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada", como afirmou o ministro Gilmar Mendes, então Beira-Mar e Abadía podem usar dessa prerrogativa para escreverem e expressarem “jornalisticamente” tudo que quiserem.

A história já registrou fatos como esse. Afinal, quem pode esquecer os textos mais profundos e até poéticos de ditadores como Hitler, Mussolini, Perón, Stalin? Homens que amavam as artes, a musica erudita e retratavam seus momentos de lucidez em textos, discursos e artigos.

De fato, parece mesmo que estamos entrando numa nova era. Quando paises(desenvolvidos)da Europa estão repensando o papel do jornalista e refletindo sobre a importância da capacitação e regulamentação do diploma para profissão, nós estamos abrindo precedentes em nome da liberdade de expressão que em termos de imprensa hegemônica como a nossa, nunca existiu.

Na derrubada do diploma, vale registrar as ausências dos ministros Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes Direito que não participaram do julgamento e o voto contrário do ministro Marco Aurélio Mello que sustentou a necessidade de conhecimentos específicos para o exercício da profissão e ainda alegou que muitas pessoas entraram na faculdade de Jornalismo acreditando que exerceriam uma profissão regulamentada.

O que vai acontecer daqui pra frente? Melhor perguntar ao Supremo que parecer ter as melhores soluções para qualquer profissão. As perdas ainda serão computadas.

No entanto, podemos admitir que a classe de jornalistas não está fortalecida, que a sociedade está acéfala de vozes profissionais nessa área, que os cursos de jornalismo serão repensados e que a democracia está muito arranhada.

Quem está ganhando hoje? Os donos do poder.

5 comentários:

  1. Se não precisa de Diploma para ser presidente, pra que precisa para ser Jornalista?
    E pra ser parlamentar? Um punhado de dinheiro na cueca resolve.
    E pra ser Ministro do STF? Basta ser amigo do Rei.

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  2. Estou -entre outras coisas- muito triste, foi um grande golpe para todos nós caros colegas. Na verdade toda sociedade brasileira só tem a perder( ou melhor, já perdeu) com esta decisão.

    Allan

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  3. Mas vocês não acham que eles apenas ratificaram o que já acontece há muitos anos no mercado? Eu discordo que qualquer um poderá ser jornalista, principalmente um bom jornalista. Na UFRJ os alunos são os preferenciais para os multimeios que utilizam a força discursiva. Na minha opinião vai integrar áreas comuns da comunicação e agregar ainda mais valor à prática. Em uma das minhas atividades, a publicidade, mais recente que jornalismo, é possível ver as agências abarrotadas apenas de universitários e diplomados em Publicidade e Propaganda, muito embora tal atividade nunca exigiu nenhuma espécie de registro ou regulamentação profissional. Talvez a manobra tenha um viés político na medida que as intenções de representação da notícia seja aviltada por apadrinhados que apenas distorçam os fatos em prol dos interesses de governantes, da máquina do desvio público. Quanto à democracia brasileira, parafraseando e adaptando Gregório de Matos Guerra, "triste democracia, ó quão dessemelhante..."

    bom dia!

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  4. Quando a poeira assentar todos vão perceber que a decisão do STF foi, acima de tudo, darwiniana. A partir de agora, apenas os mais aptos para exercer a profissão de jornalista irão sobreviver, sejam eles economistas, sociólogos, advogados...e mesmo jornalistas. Daqui para frente vai prevalecer no mercado a lei da seleção natural.

    Queiram ou não, o Supremo prestou um grande serviço, pois com uma penada só vai obrigar uma braçada de supostas "faculdades de jornalismo" espalhadas pelo país inteiro (simples fábricas de diplomas) a fecharem suas portas. Já vão tarde!

    A decisão do Supremo exintinguiu a obrigatoriedade do diploma, mas não a necessidade de aperfeiçoamento profissional. Isso significa que, de hoje em diante, o destino dos medíocres e dos incompetentes será o silêncio dos cemitérios. Que descansem em paz.

    Todo mundo sabe que jornalismo, acima de tudo, é talento. Não adianta um debilóide qualquer ir bater às portas de um Estadão, por exemplo, que não irá conseguir emprego. Sabemos, ainda, que técnica de jornalismo é coisa que se aprende em duas ou três semanas de atividade numa redação. Também é de conhecimento de todos que as redações são e sempre serão as melhores escolas de jornalismo. Nada disso vai mudar com a decisão do STF, que, aliás, tem uma conotação "bíblica" que poucos perceberam: a porta de entrada do jornalismo está mais estreita, e por ela apenas os melhores conseguirão passar.

    (O resto e chororô de quem não se conforma com o fato de que a reserva de mercado para os tais graduados nas tais escolas supostamente de "jornalismo" simplesmente acabou).

    José Paulo Borges - jornalista (MTb 16.632)

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  5. De fato é triste o que acaba de acontecer com o registro de formação jornalistica, no entanto isso torna se mais uma evidencia de que, os deflagradores do banimento do diploma sabem do impacto e do poder que é trabalhar com informação.
    E, em se tratando de politicos estrategistas, a unica forma encontrada por tais de atacar o "Tedão de Aquiles" dos midias e do 4º poder, é dando a pessoas despreparadas e sem previo e devido conhecimento sobre informação, a pratica de fazer jornalismo.

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