O que são conhecimentos técnicos afinal?
Laiza Campos*
Li nos jornais dessa quinta-feira (18/06) algo que me deixou bastante intrigada: um dos ministros que votaram a favor da não-obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão no país, afirmou que só será exigido diploma para aqueles profissionais que lidam com vidas, como médicos, engenheiros e profissionais da área de Direito. Confesso que me choquei na hora.
Sou estudante do sexto período de Jornalismo, na Uneb, e presenciei, ao longo desse tempo, calorosas discussões sobre ética e como ser “imparcial” para não ferir a hombridade de ninguém, já que iríamos lidar com vidas; sentimentos alheios... Vi meus professores, por diversas vezes, repudiar o sensacionalismo, a espetacularização da notícia... por estarmos lidando com vidas! Aí vem um ministro (que nunca passou pela faculdade de jornalismo) afirmar que só os médicos, advogados e engenheiros cuidam de pessoas.
Sinceramente, não sei mais o que está faltando acontecer nesse país!
Foram 8 votos a 1 para decidir que o conhecimento adquirido na academia é inútil. O que fazer então, acabar com os cursos de comunicação no Brasil?
O que o Supremo quer afirmar com essa nova lei, que o ensino superior no país é precário? Acho que era isso que a Ministra queria elucidar quando afirmou que não é preciso técnica para fazer jornalismo, basta usar a intelectualidade.
Deveriam ter esclarecido isso antes aos professores das disciplinas teóricas, coitados, perdem tempo ensinando aos seus alunos sobre como entrevistar; como narrar fatos sem atingir pessoas inocentes; gastam muitas aulas para nos esclarecer, de fato, quais são os critérios de noticiabilidade... A Ministra acha que isso não é Teoria da Comunicação.
Ficaria até feliz com essa decisão se o Brasil fosse um país de pessoas, ao menos, alfabetizadas. Ela defende que os “intelectuais” se manifestem... Acho que o jornal terá que continuar a ser feito por jornalistas mesmo.
Direito de publicar artigos? Todos sempre tiveram, mas eu só quero saber quem é que vai abdicar dos fins de semana, feriados e datas comemorativas, para fazer notícia no Brasil...
O jornalista, claro! Afinal, os médicos, juízes e engenheiros precisam descansar, pois, assumirão dupla jornada: em horário comercial, exercem a função para a qual foram preparados pela academia; nas horas vagas, assumem o lugar dos jornalistas.
Nesse instante, só consigo lembrar do casal da escola Base, acusado injustamente pela mídia, de praticar abuso sexual infantil dentro da escola. A mídia fez um estardalhaço... destruiu a imagem e a vida dessas pessoas para, em seguida, a justiça inocentá-los por falta de prova.
Os jornalistas e veículos foram processados, embora o caso ainda não tenha sido resolvido. Com isso, eu me pergunto: se algo semelhante acontecer a partir de agora, quem irá responder aos processos, os donos das empresas?
Os “jornalistas”? Ah! Lembrei, não estamos lidando com vidas, portanto, ninguém deverá ser responsabilizado pelos danos causados à sociedade.
*Estudante de Jornalismo em Multimeios da Uneb, em Juazeiro.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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