terça-feira, 10 de julho de 2007

Existe morte mais importante do que outra?

R$ 10 mil por um bandido? Existe morte mais importante do que outra? Por que uns podem e outros não?


É absurdamente inaceitável quando a própria polícia escolhe o “principal” crime para desvendar. Uma campanha lançada ontem pelo Disque-Denúncia e que será divulgada e apoiada pela grande mídia pernambucana, promete recompensar com R$ 10 mil qualquer pessoa que fornecer informações que levem à prisão dos assassinos do superintendente da Policia Rodoviária Federal em Pernambuco, Lourinaldo Vitorino de Moura, 58 anos, morto com dois tiros, quinta-feira passada (04) durante tentativa de assalto, em Bezerros, Agreste do Estado.

Poderia ser natural se não fosse tão hipócrita imaginar que o superintendente da PRF seja uma pessoa mais importante do que centenas de pessoas comuns que também foram brutalmente aniquiladas em nosso Estado, especificamente, na capital, Recife, e Região Metropolitana, cujos processos estão adormecidos em gavetas ou estantes cobertos com teias de aranhas. Querem saber mais? Vejam o blog da Segurança Pública
http://www.pebodycount.com.br. O que não vão faltar são nomes e dados dos homicídios na região. No último acesso, 10/07, a contagem estava com 790 desde 1º de maio de 2007.

Com todo respeito ao profissional e a família do senhor Vitorino, mas o questionamento aqui é sobre a importância dada a uma morte em função da pessoa e o total abandono de uma outra morte de qualquer outra pessoa. Seja ela seu João da barraca que morava na Linha do Tiro, região Norte do Recife, ou doutor fulano de tal que tem título de Classe Alta. Numa cidade aonde o índice de violência chega a números alarmantes e que ficar em casa nem mesmo é mais seguro, é complicado para sociedade entender por que ela paga impostos e não é tratada de forma semelhante. É complicado entender porque a socialização das coisas só funciona quando se trata de perdas e não de ganhos.

O questionamento também vai para nossa imprensa que destaca em sua capa principal os “crimes mais relevantes ou não”. A depender da pessoa ou do crime a chamada terá um maior destaque ou não. Dos três jornais de maior circulação no Estado dois, Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco, deram na manchete de capa a importância que este crime tem em função do cargo exercido pela pessoa que foi morta. Isso ficou muito claro.
Estamos vivendo um momento de reflexão, sim. Onde precisamos passar a limpo as instituições representativas da nossa democracia. E aí entram o Congresso Nacional, Assembléia Legislativa, as Câmaras de Vereadores, a Imprensa...

Vai o recado para nossa imprensa estadual: está mais do que na hora de termos ombudsman nos veículos. Pela importância da cidade do Recife no cenário nacional, para acompanhar a evolução do tempo, como bem fez o jornal O Povo de Fortaleza, a exemplo da Folha de São Paulo e de sites como Uol e Ig.

4 comentários:

  1. Por experiência própria posso afirmar que nossa imprensa não gosta de ser corrigida mesmo nos erros mais primários e absurdos. Fingem que não é com eles, como se pairassem acima dos mortais leitores de seus jornais. Vale o chavão, há exceções!

    Sugiro que voc~e elinine esta verificação de palavras. Abs.

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  2. Teresa, parabéns por esse artigo. se todos os jornalistas, radialistas e apresentadores que fazem a nossa imprensa brasileira olhassem o dia-a-dia como você, poderiamos mudar para melhor a nosssa história.
    Um abraço.
    Do Radialista. Ailton Moreno.
    Da Agencia. Pernambuco4 em Caruaru, PE.

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  3. Camarada Teresa,

    Recentemente escrevi em meu blog um artigo sobre o aoartheid social no Brasil.

    É oportuna a discussão pois se camuflam as vossas excelências através da IMpUNIDADE MATERIAL, enquanto ela deveria apenas ser formal.

    Além do mais, no Brasil se mata mais em homicídios que o Iraque em plena guerra civil DECLARADA.

    ONDE VAMOS PARAR?

    Enviei o artigo para você dispô-lo no seu glorioso blog.

    Abraços.

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  4. Teresinha,
    parabéns pela sua coragem em mostrar nossa indignação por essa injusta discriminação.

    Beijos,
    ana Elizabeth

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