Bacharel em Direito, mestre em História, jornalista e publicitário desde a juventude, José Nivaldo Junior ou o marketeiro político Zé Nivaldo, como muitos gostam de chamar, tem uma trajetória longa nesta área. É diretor da Makplan, uma das agências com maior experiência em marketing político do Brasil. No seu portfólio estão várias campanhas eleitorais entre elas a de Leonel Brizola para presidência da República em 1989, a de Marta Suplicy para o governo de São Paulo em 1994 e para prefeitura em 2000. Neste mesmo ano, levantou a estrela petista para João Paulo à prefeitura do Recife, e em 2004 esteve ao lado de Paulo Maluf à prefeitura de São Paulo. Zé Nivaldo assessora e presta serviços para governos em todas as regiões do País.
Já fiz outras entrevistas com o mestre, mas esta exclusiva para este blog tem um sabor diferente. Afinal, com tantos compromissos de Zé Nivaldo ele tirou um tempinho para ler meu e-mail com as perguntas e retornar quase que de imediato com as respostas que vocês podem apreciar agora.
Blog Teresa Leonel - Depois dos vários escândalos do governo PT e da falta de credibilidade dos políticos em geral que análise você faz em relação as eleições de 2008?
José Nivaldo - Ainda é cedo para pensar 2008. Tem muito depende pela frente. Depende da reação do Congresso às denúncias, do nível de indignação (ou torpor) da sociedade e das regras eleitorais que vão vigorar. Além disso, as eleições serão municipais e a crise, até agora, é federal.
Blog Teresa Leonel - Com os escândalos em todos os níveis e partidos, você acredita que haverá uma mudança no perfil dos novos candidatos?
Zé Nivaldo - Sinceramente, não acredito.
Blog Teresa Leonel - Que perfil e discurso político você acredita que o eleitor está esperando dos candidatos?
Zé Nivaldo - Creio que o discurso ético vai ganhar força. Além disso, como sempre, o eleitor mandará um recado aos poderes nacional e estaduais.
Trabalho com a hipótese de que candidatos com perfil oposicionista partirão com alguma vantagem, pelo menos nas cidades maiores.
Blog Teresa Leonel - O marketing político é o melhor instrumento para apresentar as propostas dos candidatos e convencer o eleitor? O que fazer para conquistar o eleitor?
Zé Nivaldo - O marketing político não tem receitas mágicas. Em princípio, oferece as melhores opções estratégicas e de comunicação para que o candidato se apresente ao eleitor da melhor forma. Também não existe uma fórmula genérica para conquistar o eleitor. Cada caso tem que ser estudado de acordo com um conjunto de fatores, que incluem a realidade local, o perfil e histórico do candidato, seu posicionamento político/ideológico e os compromissos que está disposto a assumir diante do eleitorado que se propõe a conquistar.
Blog Teresa Leonel - Em geral, que análise você faz sobre a chamada reforma política? Explique um pouco essas questões como voto em lista; financiamento público de campanha, voto distrital.
Zé Nivaldo - A reforma política é mais uma atitude casuística do Congresso, uma forma de se livrar das pressões e dar uma satisfação à sociedade. A prioridade da reforma política deveria ser a consolidação das regras eleitorais, que nunca amadurecem porque são modificadas periodicamente. Caso fosse adotado, o voto em lista significaria que o eleitor não mais votaria em candidatos e sim em partidos. Cada partido apresentaria sua lista de candidatos, que seriam eleitos pela ordem, conforme o voto que a legenda recebesse. Essa opção está temporariamente arquivada. O financiamento público significa o Estado, isto é, a sociedade, arcar com os custos das campanhas, acabando a arrecadação de recursos privados. O voto distrital significaria a divisão do País em distritos eleitorais. Cada distrito elege seus deputados pelo voto majoritário, ou seja, os candidatos concorrem uns contra os outros naquele determinado distrito e só um é eleito.
Blog Teresa Leonel - Os tópicos da reforma política não estão mais voltados para o processo eleitoral do que para mudanças significativas no processo político?
Zé Nivaldo - Você tem inteira razão. O que se chama de reforma política é na verdade mais uma alteração das regras eleitorais, uma fórmula repetidamente adotada para jogar a crise para o alto.
Blog Teresa Leonel - Um dos tópicos da reforma é o voto facultativo. Ou seja, o voto torna-se um direito, e não um dever. O eleitor não é obrigado a comparecer às urnas. Isso já não deveria fazer parte da democracia no Brasil?
Zé Nivaldo - O voto deveria ser facultativo, sempre. Votar é um direito e as pessoas deveriam ter a prerrogativa de utilizar ou não desse direito.
Blog Teresa Leonel - Provocando um pouco o seu olhar crítico, que tipo de análise você faz em relação aos chamados “políticos de interior”, como é o caso de Petrolina? Eles interferem, têm força, no cenário estadual?
Zé Nivaldo - Uma coisa é o político local, outra é o político estadual e outra o nacional. Depende da dimensão e dos papéis que as lideranças assumem. Todos os políticos são importantes, todos têm sua contribuição. Petrolina é pródiga em gerar políticos que assumem uma dimensão estadual, com grande contribuição para o progresso econômico e social de Pernambuco e também da Bahia.
Blog Teresa Leonel - Pelo seu conhecimento em assessoria de campanhas políticas como o eleitor que é leitor/ouvinte/telespectador pode analisar as pesquisas publicadas meses antes da eleição? Que dicas você daria como especialista em relação aos cuidados que ele deve ter na leitura dessas pesquisas?
Zé Nivaldo - A melhor e a mais repetida avaliação da pesquisa é o chavão de que ela representa o retrato do momento. A pesquisa é de opinião. Voto é decisão. A opinião coletiva pode mudar - e frequentemente muda - até na hora do voto. Por isso, muitas vezes fica a imagem de que as pesquisas erraram. Pesquisa só erra se for mal feita, ou dentro das margens de erro e do intervalo de confiança. O que muda é a opinião do eleitor no momento do voto.
Blog Teresa Leonel - Filosofando um pouco, por que muitas pessoas querem ser candidatos a um cargo político? É apenas para estar no poder?
Zé Nivaldo - A política faz parte da sociedade. Em todos os ambientes existe liderança. É natural que pessoas com capacidade para liderar sejam impulsionadas para a vida pública. É uma convocação da qual as pessoas não podem fugir e muitas vezes sequer conseguem explicar. Enquanto houver sociedade, haverá poder. Enquanto houver poder, haverá disputa por ele, em todos os níveis.
Blog Teresa Leonel- Agora pra gente fechar com chave simbólica, existe alguma campanha política que você como marketeiro/publicitário vai fazer aqui em Petrolina?
Zé Nivaldo - Eu não escolho clientes. Os clientes é que me escolhem. Também não discrimino partidos ou lugares. Já fiz campanha em Floresta e em São Paulo, por exemplo, e trabalhei para candidatos de praticamente todas as legendas. Por enquanto, tenho várias sondagens, mas nenhuma campanha fechada para o próximo ano. Ainda tem muito chão pela frente.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
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Pinzoh] [pinzoh@uol.com.br] [http://blogdopinzoh.blogspot.com/]
ResponderExcluirMinha querida Teresa, Tenho vindo ao seu blog, lido suas postagens, e até me interessado em comentá-las. Vou iniciar por esta entrevista com Zé Nivaldo. Primeiro, independente de ele ser brilhante, acho que um marketeiro não é a melhor pessoa para falar em ética na política. Não se esqueça que um dos maiores escândalos teve pelo menos dois marketeiros e algumas agências como pivôs dos escândalos. Foi principalmente através do marketing que a política se transformou em puro espetáculo. Acho que a opinião de Zé Nivaldo sobre a reforma política desdenha de sua importância... agora imagine se, entre as regras da reforma política houvesse a limitação do espetáculo na política! Como ficariam os marketeiros? Eu sou a favou que a reforma não apenas limite o uso desses instrumentos em campanhas, como os próprios governos tenham limitados os gastos para tal fim, exatamente porque os governos gastam mais em propaganda do que em ações reais, educativas ou em saúde, por exemplo. É isso!
(postado 04/07/2007 14:28
[Emanuel Alírio] [contato@kecomunicacao.com.br]
ResponderExcluirMuito boa a entrevista. Respostas inteligentes para perguntas inteligentes. Parabéns a jornalista e ao entrevistado.
04/07/2007 09:01