domingo, 28 de outubro de 2007

A desigualdade social contribui para violênica? Entrevista Maria Rita - Maita *



Questionar a desigualdade social como elemento contribuinte da violência urbana está em pauta na mídia. Também faz parte da discussão à função das nossas polícias, a formação dos “homens das fardas”, a violência dos grandes centros urbanos, o papel das instituições constituídas e nesse processo em qual direção segue a nossa sociedade. Sobre estes temas, a psicóloga e professora da UNEB em Juazeiro, Maria Rita do Amaral Assy*, conhecida no meio acadêmico e pelos amigos como Maita, fala um pouco dessas questões em entrevista exclusiva para o blog.

Longe de querer resolver todos os fatores atenuantes que se entrelaçam nessa complexa problemática social, Maita relata um pouco a construção ou o sentido de como produzimos, nós, sociedade, as diversas violências.

Teresa Leonel - A sociedade está insegura em relação às polícias militar e civil? A polícia, em geral, não tem credibilidade?

Maria Rita (Maita) - Pensando a sociedade como sendo as pessoas em geral: a relação das pessoas em geral com as polícias é muito ambígua, paradoxal. Não há um único sentido para o que sentem, pensam, esperam da polícia. É um bom campo de trabalho, bem remunerado para os padrões gerais, sério, de respeito etc. (cada vez mais os jovens mesmo graduados concorrem a vagas nas polícias). É também sentida como uma ameaça nas abordagens. É a encarnação da lei. É a corrupção em pessoa. Enfim, para pensarmos essa relação temos que saber de que momento, sob que condições iremos analisar.
Pensando a sociedade como o modo de vida e organização social vigentes: vivemos numa sociedade que tende a solucionar seus problemas e conflitos com a ferramenta ‘polícia’. Tanto delegamos as soluções às instituições policiais, como incorporamos um modo-polícia de lidar com tudo.

A política não é admirada toda vez que serve a um controle e repressão? Político bom é tanto aquele que a pretexto de uma transparência, vigia, controla, pune etc. como aquele que exerce a lei, ou até mesmo de onde emana o que deve regular a sociedade? Os furos na imprensa não são para denunciar crimes? O sensacionalismo que muitas vezes é característico da imprensa não estaria mostrando a vida como um drama policial? O bom pai não é aquele que detém o poder de polícia sobre seus filhos? O professor não segura a lista de freqüência, tira ponto, vigia, controla...?Mas não é fácil e ao delegarmos nossos destinos às polícias, nos enfraquecemos.

Perdemos armas, somos suspeitos, estamos sob a polícia. Ao sermos nós a polícia, nos distanciamos, desconfiamos, vivemos um jogo interminável de gato e rato na política, na escola, na imprensa, na família... Daí metemos o pau na polícia e tudo que vem dela, como que para reaver a nossa dignidade.
Veja que essas condições estão postas antes mesmo que a polícia, qualquer que seja ela, exerça sua função. De modo que detestamos e admiramos a polícia não importa o que faça. E a depender do que faz, tendemos mais a um lado do que a outro, normalmente não vendo o nosso envolvimento e cumplicidade.

Veja aqui entrevista completa.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Blog

Gente,
Uma dica interessante para leitura é o blog de Eduardo Ferreira com assuntos que vão de política à economia, passando por cultura e entretenimento. Ressalto ainda que muitos artigos e publicações são dos alunos de Jornalismo e Multimeios da Uneb-Juazeiro.
Além disso, Petrolina e Juazeiro estão em boa parte dos textos.
Vale a pena conferir.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Por que os políticos mudam de partidos? Parte 2


Sob a égide de que mudar de partido tem a ver a com o se adequar ao contexto real, do momento, os políticos querem sair de uma legenda para outra assim como pulam os macacos: de galho em galho. Considerando que o macaco não é racional e faz parte da sua característica o pula-pula de galho é preciso, sim, irracionalizar as atitudes dos nobres políticos para entendermos as diversas razões pelas quais eles agem.

Enumerando algumas dessas razões, percebemos, por exemplo, que os partidos em geral têm um mesmo fio condutor. Lutam por igualdade, ideologia, pelo tripé saúde-educação-habitação e como agregado a questão da segurança pública. Fazem da bandeira igualdade-liberdade-fraternidade um discurso memorável e alguns dos líderes estão sempre dispostos a “morrer por esses ideais”.

Em determinado momento a conjuntura política muda. Quem era poder virá oposição e vice-versa. Os acordos e trocas de favores começam a ser expostos. É hora do pega lá, pega cá interminável. Em surdina pelos corredores municipais, estadual e federal os conchavos acontecem de forma agressiva. Isto é meu e isto é seu. Em troca lhe garanto tantos votos ou então abro ou fecho a pauta de votação.

Acordos fechados e cargos espalhados vamos para segunda etapa: as grandes negociatas financeiras. Sim, porque vamos entender a participação de pessoas de foro íntimo dos políticos em cargos estratégicos no serviço público. Quem faz o que, aonde faz, com quem faz e as razões pelas quais faz.
Nada mais elementar meu caro leitor.

Mas para quem é mesmo que os políticos trabalham? Trabalham pelas suas conveniências pessoais, intransferíveis. Trabalham para se manter no poder e usar a máquina publica em causa própria. Lutam por melhores salários para seus bolsos. Compram “pessoas” e fazem negócios escusos visando se aparelhar cada vez mais de tecnologia e recursos para movimentar e manter a máfia.

Mudar de partido é apenas uma ponta desse iceberg. Afinal a indústria dos grupos criminosos invadiu o celeiro político para ditar as suas regras de poder. Nesse contexto os verdadeiros e honrosos representantes políticos (se é que ainda estão vivos nesse lamaçal) foram apagados do cenário midiático e quase não têm voz para denunciar.

E a nós, eleitores, quase que inertes diante desse caos, ainda restam, pelo menos, uma arma de guerra fatal: o nosso voto. Com ele somos imbatíveis.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Pra não dizer que não falei mais do Renan e Mônica...


Por que os políticos mudam de partidos? Parte 1



Numa eleição existem os aliados de um lado com interesses e objetivos em comum. Na outra ponta tem um outro grupo que é contra os interesses do grupo opositor.

As peças do tabuleiro eleitoral começam a ser mexidas e posicionadas quase um ano e meio antes da eleição. O jogo é complexo porque são muitos egos a serem administrados e poucos espaços para alocar tanto narcisismo.

Na disputa, o discurso agressivo, o baixo nível do debate e a lavagem de roupa suja vão tudo pra rua. A arena é na Tv, nos planfletos, no outdoor, no corpo-a-corpo nas ruas e nos debates nas universidades e escolas.

Quem tem a melhor plataforma de trabalho? Quem tem as melhores condições de assumir a função parlamentar? Qual dos candidatos tem as melhores intenções para fazer do seu mandato uma obra em favor da sociedade?

Até então, o que está valendo é o conceito de se fazer o melhor discurso para conquistar uma parte dos eleitores.
Quanto mais se aproxima do pleito, mas as peças do tabuleiro são mexidas.

Numa estratégia de jogo podemos encontrar inimigos ferrenhos de longas datas que jamais se sentariam juntos numa mesma mesa de restaurante, mas por amor ao povo, estão coligados-associados-consorciados para unificar a força e subirem todos a tribuna das casas legislativas. Por amor ao povo os ex-inimigos, hoje, são amigos íntimos de berçário.

Encontramos os oportunistas de “sombras” que rondam e rondam determinadas figuras do meio político para ficar ao lado dele e usar seu prestígio e o seu dinheiro durante a campanha. Também temos os navegadores. Àqueles que vão de um lado para o outro conforme a onda levar.

Há os que gostam de fixar residência no partido e tomar conta da base de sustentação para determinar quem entra, quem sai e quem deve ou não ser convidado a aguardar um pouco na fila até chegar a vez.

Existem aqueles que se elegem por um grêmio ou um conjunto de associados e agregados e depois debandam para o partido que antes era oposição. Tudo isso para não perder as benesses que só mesmo os que estão no topo dos governos municipais, estaduais ou federal podem obter.
É o efeito cascata da pós-eleição.

Conquistados o poder os interesses mudam. Mudam o discurso, a ação e muda o conceito do que é integridade, fidelidade e bandeira ideológica.

(continua...)

domingo, 14 de outubro de 2007

Tropa de Elite - O filme

Vale a pena postar esta entrevista do co-roteirista do filme Tropa de Elite, Rodrigo Pimental, publicado no Jornal do Commercio de hoje.

Notícias de uma guerra perdida

Em 1997, o então capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro Rodrigo Pimentel deu uma entrevista ao cineasta João Moreira Salles para o documentário Notícias de uma Guerra Particular. De lá para cá, a vida de Pimentel, hoje com 36 anos, mudou completamente.

Há sete anos fora da PM, o ex-oficial fez pós-graduação em sociologia, escreveu um best-seller e co-roteiriza o arrasa-quarteirão nacional Tropa de Elite. Nessa entrevista, por telefone, ao repórter Eduardo Machado, Pimentel comenta os bastidores do filme e põe na conta de toda a sociedade o estado de violência em que vivemos. Ele estará amanhã no Recife a convite do blog PEbodycount. O evento será realizado às 19h, na Faculdade Maurício de Nassau, na Rua Guilherme Pinto.

JORNAL DO COMMERCIO – Atualmente onde você trabalha?
PIMENTEL– Em um banco privado, na área de segurança.

JC – Desde quando?
PIMENTEL – Desde que saí do Bope e pedi baixa da polícia em 2000.

JC – Como é sua relação hoje com a polícia?
PIMENTEL – Com uma parte dos policiais que se identificaram e gostaram do filme é muito boa. Recentemente, uma associação de militares do Estado daqui do Rio de Janeiro me concedeu uma medalha, medalha que durante a minha vida na ativa como policial eu nunca ganhei. Com a outra parcela da polícia, a relação é tensa, é ruim. É muito legal também que o PM de forma geral virou um aliado do filme. Se você vê a comunidade do Orkut da PMRJ, os comentários favoráveis ao filme são quase que maioria absoluta. Você chegou a ver o filme?

JC – Sim.
PIMENTEL – Tem uma cena lá que o PM tem que pagar para entrar de férias. O policial militar não se vê como aquele que cobra para o outro, mas sim como o PM que está sendo extorquido. E ainda que ele se enxergue mais na frente como corrupto, ele entende que o contexto, as circunstâncias, é que o levaram a isso.

JC – Compreendo...
PIMENTEL – Tem mais. O Bope nunca havia desfilado no Sete de Setembro. Existe desde 1981 e em 26 anos de idade nunca havia desfilado no Sete de Setembro. Este ano, o comandante da Polícia Militar determinou ao comandante do Bope, coronel Pinheiro Neto, que desfilasse no Sete de Setembro, resultado: a tropa foi ovacionada, foi aplaudida de pé. As pessoas no Rio de Janeiro vivem um momento de indignação com a violência tamanha que começam a heroicizar o Bope, o capitão Nascimento. Eu nunca pensei que isso iria acontecer. Achei que as reações iriam ser outras.

JC – Falando nisso, o que você achou do artigo de Luciano Huck (no qual o apresentador, após ser assaltado, queria que chamassem o capitão Nascimento)?
PIMENTEL – Eu mandei uma carta para o jornal O Dia, na qual eu disse para o Luciano Huck que o Pacto Social vigente no País hoje mão permite que a gente ande de Rolex pela rua. Ele chama a Tropa de Elite para proteger a elite e para proteger o patrimônio da elite. Mas ele esquece que num País com tamanha desigualdade social, o pacto social firmado por nós mesmos, não permite que a gente ande de Rolex. Não permite que a gente ande com um carro de R$ 200 mil reais, sem que ele seja blindado. Então, Luciano Huck diz assim: ou a gente investe em mais escolas ou a gente chama o capitão Nascimento. Não há meio termo. Ele esquece que um investimento maciço em educação, que é um investimento que só retornará a longo prazo, e o capitão Nascimento que é torturador e mata bandidos, entre essas duas coisas tem a polícia investigativa, tem a polícia científica, tem um sistema prisional de melhor qualidade, uma reformulação no Código Penal, tem a questão da impunidade... Então achei que ele foi muito infeliz. Tenho certeza de que ele é uma pessoa de boa índole, tenho certeza de que ele estava tomado por um ódio momentâneo, mas a verdade é que naquele dia que o Luciano Huck foi assaltado, outras 480 pessoas foram assaltadas na grande São Paulo. Sei que ele é um cara do bem, que desenvolve ações sociais, é uma pessoa que está preocupada em ajudar os outros é uma pessoa altruísta, acho que faltou ali alguém para segurá-lo na hora em que ele resolveu falar com os jornais.

JC – Quanto de você tem no capitão Nascimento?
PIMENTEL – Olha só, aqueles dramas vividos pelo Nascimento, dramas familiares, vontade de sair do batalhão, pragmatismo, estresse, aqueles dramas são comuns a todos os policiais do Bope. O oficial do Bope permanece naquela unidade cinco, seis anos, às vezes sete anos, numa rotina de operação em favela quase dia sim, dia não. Então eu busquei nos meus dramas pessoais, mas nos dramas de amigos também aquelas situações. Somei cinco ou seis histórias de policiais da unidade para fazer a composição daquele personagem. Os resultados foram interessantes. Meu filho não nasceu durante uma operação. Meu filho nasceu eu estava em casa com a minha esposa. Porém, um oficial do Bope me ligou e disse: “Pô Pimentel, obrigado pela homenagem, meu filho nasceu na operação e tal”. Eu não tive uma discussão calorosa com a minha esposa como aquela. Porém, a esposa de um amigo meu me ligou e disse: “Pimentel, parece que você assistiu a nossa briga”. Eu não tomei Diasepan, mas eu tomei Rivotril. O colega que tomou Diasepan me ligou e agradeceu. Qual é a conclusão? Os dramas eram comuns a todos.

JC – A gente conversando agora em um certo momento você disse que Nascimento era um assassino de bandidos. Existe assassino de bandidos ou existe assassino?
PIMENTEL – Não, olha só... Puxa vida, que difícil você me perguntou agora, cara. Vamos lá. Em um determinado momento, a minha geração de oficiais acreditou que a guerra tinha solução. Que a gente podia ganhar a guerra. Em algum momento, a minha geração acreditou que operações noturnas, com alto grau de letalidade, com enfrentamento aos traficantes poderia inverter o jogo no Rio de Janeiro, poderia mudar o que a gente vê no Rio de Janeiro. O que acontece é que depois de dois anos, o oficial começa a perceber que essas operações são uma grande besteira. Que você subir na favela de madrugada, trocar tiro com traficante para apreender 100 gramas de cocaína, duas pistolas, 100 gramas de cocaína e uma metralhadora, quando na verdade aquela favela tem 50 metralhadoras, 50 fuzis, 50 traficantes... Você começa a perceber que você está enxugando um grande gelo...

JC – Só para ilustrar, aqui no Recife se a polícia faz uma operação e apreende-se duas pistolas e uma metralhadora é um acontecimento...
PIMENTEL – (Risos) Então, quando a pessoa participa dessas operações, acreditando que está fazendo aquilo em benefício da sociedade, eu não diria que essa pessoa é um assassino. Acho que ela realmente tá combatendo com um ideal. Agora, depois que ela é orientada e entende que aquela guerra ali é uma guerra perdida. Que não é daquela forma que ela vai combater o narcotráfico. Se ela persistir no erro, acho que já é sadismo. Mas voltando a sua pergunta, se existe um assassino do bem e um assassino do mal, eu diria que quem mata sem ódio, quem matou bandido acreditando que estava fazendo um benefício para a sociedade, na pura ingenuidade dos vinte e poucos anos, eu não chamaria essa pessoa de assassino.

JC – Mas você vê, por exemplo, a transformação que o aspirante Matias passa no filme. Ele é totalmente respeitador das regras no começo e, depois, ele se torna também um carniceiro...
PIMENTEL – O Matias foi seduzido pela loucura do Nascimento. Um cara totalmente louco. Ele preferia o Neto, mas ele trouxe o Matias para o lado dele. A gente queria mostrar que o Matias chegou ao Bope ingênuo e a gente mostra que o sistema da violência consegue tragar ele. Ele pensa que vai ser um cumpridor da lei e não é o que acontece. Uma coisa meio louca de entender. Eu estou de manhã numa favela matando jovens que vendem maconha e de noite numa festa com jovens que fumam maconha. Sabe, então esse dilema eu vivi. O Matias viveu, é muito doido. O filme leva a uma discussão maior que é a liberação das drogas. Acho que o filme tem uma coisa importante... F... não vou concorrer ao Oscar, gostaria muito de concorrer...

JC – Mas no ano que vem não tem outra chance?
PIMENTEL – Pode, mas aí vai ter que disputar na categoria principal com os filmes de Hollywood. É mais difícil, competir como filme doméstico americano. Perdi lá para Cao Hamburger que é um filme legal e tal, mas o meu consolo hoje é que a gente colocou na pauta do brasileiro a discussão da Segurança Pública. F... que é por duas ou três semanas, mas estamos debatendo Segurança Pública.

JC – Tropa de Elite é um filme para se ver quadro a quadro?
PIMENTEL – Essa questão de bater em todos, de não poupar ninguém é porque todo mundo tem culpa nessa p... A culpa da situação de violência em que vivemos é da corrupção, da impunidade, da sociedade, do Senado, da gente que não escolhe bem... Aí vem alguém e diz que é por causa da classe média que fuma maconha. É também, mas tem ainda o consumismo, o desemprego, a falta de transporte...

Poeta não morre nunca...

Foto: Divulgação

Recebi esta obra prima poética da minha amiga Bet. Exatamente para não esquecermos que a poesia não morre. O poeta foi... mas a palavra está aqui.



Canto dos Emigrantes

Alberto da Cunha Melo (1942-2007)


Com seus pássaros
ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.

De uma quadra a outra do tempo,
de uma praia a outra do Atlântico,
de uma serra a outra das cordilheiras,
todos emigram.

Para o corpo de Berenice
ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico,
para dentro de si
ou para todos,
para sempre todos emigram.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Nasce o poeta - Ferreira Gullar

Minha amiga Bet passou esta obra para mim via e-mail. Não resisti e postei aqui para compartilhar com todos. Bet diz:

Como num sorteio, enfiei a mão no meu "saco" de poesias, e um recorte de 1999, do jornal Gazeta Mercantil, de São Paulo, publicava este poema, retirado do livro "Muitas Vozes" de Ferreira Gullar que Daniel Piza considera "O melhor livro de poesia da década"...
Metalinguagem mais uma vez, a nos chamar para os ossos do ofício, seja poeta, seja leitor... O final é surpreendente, uma carapuça às avessas, e entre falhas e falas vamos vivendo...

Vejam a poesia abaixo...
Nasce o poeta
Ferreira Gullar

No princípio
era o verso
alheio

Disperso
em meio
às vozes
e às coisas
o poeta dorme
sem se saber

ignora o poema
não tem nada a dizer


o poema péssimo
revela
ao ser lido
que há no leitor
um poeta adormecido


o poema péssimo
(por péssimo) pode
ter comovido
inda que errado
em sua emoção
inda que truncado
em sua dicção

ele guarda um barulho
de quintal, de sala,
de vento ou de chuva
de gente que fala
ivo viu a uva

o poeta ao ler
o péssimo poema
nele não não se vê


na palavra ou verso
onde não se lê -
se lê ao reverso
em seu vir a ser

e assim vira ser

já que a escrita cria
o escrevinhador:
soletra na pétala
o seu nome: flor

o mundo que é fácil
de ver ou pegar
é difícil de ter:
difícil falar
a fala que o dá

e a fala vazia
nem é bom falar

se a fala não cria
é melhor calar

ou - à revelia
do melhor falar -
falar: que a poesia
é saber falhar

"Preguisa baiana" é faceta do racismo...

O tema foi defendido na tese de doutorado da professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, em setembro deste ano. O texto foi repassado pra mim pela professora Giovanna de Marco (Uneb-Juazeiro), que recebeu do amigo Almir Costa Amorim Junior, de Petrolina. O mesmo fez o seguinte apelo: "faça-me o favor de encaminhar este e-mail ao maior número possível de pessoas. Para que, desta forma, possamos acabar com este estereótipo de que o baiano é preguiçoso. Muito pelo contrário, somos dinâmicos e criativos. A diferença consiste na alegria de viver, e por isso, sempre encontramos animação para sair, depois do expediente ou da aula, para nos divertir com os amigos".

A famosa 'malemolência' ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendida na USP. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos.
A tese sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de 'festa eterna'. Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. 'Quem se diverte é o turista', diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas, que a magem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia. O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência.

A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista. A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão??? ?). Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos.

Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de 'proteção' dos seus empregos. Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. 'Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil', diz Elisete.

Até Caetano se contradiz quando vende uma imagem e diz: 'A fama não corresponde à realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo'. Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente 'Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades.'

O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América latina. Para tirar as conclusões acerca da origem do termo 'preguiça baiana', a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho.

O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia). Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada).

Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil). Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados 'desocupados' (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13°lugar. Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado.

O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos,financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Monica Veloso e as mudanças radicais

R.Duran

ANTES
Dormia com um conhecido e acordava sozinha.
Buscava projeção, destaque, poder.
Absorveu e usufruiu das benesses que a política-poder proporcionam.
Fez escalas de valores, escolheu amigos e pessoas que compactuaram com suas idéias e outras que pularam pra fora antes que tudo fosse para o ventilador.
Escreveu algumas linhas imitando atitudes jornalísticas e se fez de importante ao assumir apresentação na vênus prateada de Brasília.
Aproveitou as “oportunidades oportunistas” e enveredou para o marketing político como visão estratégica de crescimento numa cidade onde quase tudo (quase) cheira a politicagem.
Com toda esperteza fez um fruto (já sabido) de uma relação extraconjugal para se alimentar de dividendos posteriores.

DURANTE
Posou de vitima das circunstâncias.
Pensou no futuro das filhas.
Teve a vida virada de cabeça para baixo e resolveu pisar no acelerador das “oportunidades oportunistas”, novamente...
Se fechou para os questionamentos da grande mídia e soltou algo ali e aqui para uns e não outros veículos.

HOJE
Resistiu (???) e depois aceitou posar de forma “artística” para Playboy com o discurso de que muitas mulheres midiaticas já fizeram tais exposições e não tiveram conseqüências profissionais depois.
Mostrou os atributos físicos para que todos pudessem conhecer as armas que usou para conquistar “oportunidade e poder”.
Agora circula pela grande mídia para convencer e se converter ao seu próprio discurso, justificando que antes de tudo ela foi jornalista, produtora, professora universitária ....
Ganhou outros tipos de amigos e perdeu vários.
Registrou tudo num impresso para ficar na história escrita e nas vitrines das livrarias nacionais.
Fez mudanças geográfica, corporal e da mente. É outra mulher.
Alias, a MULHER QUE ABALOU A REPÚBLICA é uma referência para tantas que gostariam de seguir este mesmo exemplo triunfante de subida/descida de poder.

Entre o comum, singular e o diferente estão as anuências estabelecidas pelas regras de mercado da promiscuidade. Uma delas parece ser a entrada triunfal de determinadas gravuras no centro das atenções midiaticas nacional (e internacional). A outra tem a ver com a velocidade vertiginosa que é proporcionada pela queda dessas gravuras.

É realmente incontável.

Quando as palavras continuam soltas

Parece que jogar com as palavras e seus diversos significados temporal tem sido uma dinâmica constante de alguns intelectuais, escritores, jornalistas de sites ou revistas “alternativas”, tipo Caros Amigos, Carta Capital, para citar algumas.

“Nunca antes na história desse país” houve tanto debate sobre “ética”, “moral” e “decência” de forma coloquial, desprovidas de contextualização e justificativas para arrumar explicações nada cabíveis de desvios de condutas ou algo semelhante.

“Nunca antes na história desse país” se apresentou tantos episódios de corrupções em governos anteriores, sobretudo o de Fernando Henrique Cardoso e seus compatriotas, para justificar os desvios de condutas e quebra de decoro do governo atual.

“Nunca antes na história desse país” a mídia foi alvo de tanta reflexão, xingamento, desconfiança, bombardeio quanto à credibilidade e tendências partidárias.

A despeito do que verdadeiramente se propõe os defensores da honradez e moral dos atos políticos praticados pelos pregadores da decência, vale aqui um passeio pelo livro de Roger Silverstone (1) no seu questionamento sobre as razões pelas quais se estuda a mídia.

Silverstone explica que a mídia tem o “poder de mudar o equilíbrio de forças: entre Estado e cidadão; entre país e país; entre produtor e consumidor... trata-se apenas de propriedade e controle: o quem, o quê e o como... de sustentar significados; de persuadir, endossar, reforçar... o poder de minar e reassegurar. Trata-se de alcance e de representação: a habilidade de apresentar, revelar, explicar; assim como a habilidade de conceder acesso e participação. Trata-se do poder de escutar e do poder de falar e ser ouvido”.

Muito além do que imaginamos, estamos sim vivendo um conflito de idéias e conceitos ideológicos. Afinal, foi dentro dos centros acadêmicos que muitos dos pensamentos renovadores, criadores pra não dizer neoliberal, pós-moderno ou contemporâneo foram construídos, debatidos de forma exaustiva para finalmente ir para as ruas e conquistar o poder. Muitos dos intelectuais acadêmicos estão taciturnos, meditabundo, cabisbaixo, calados, omissos, inertes... aguardando o porvir.

É natural. Os nossos questionamentos estão em conflitos: o que é esquerda e direta hoje; quais as instituições que estão comprometidas com o cidadão; quais os movimentos sociais que estão representando o coletivo, o conjunto de pessoas; a quem podemos empregar rótulos de credibilidade, confiança, altivez; quem é nosso inimigo real e virtual; que armas (simbólicas ou não) podemos usar contra as palavras, o discurso, os conceitos...

O grande questionamento é: contra quem estamos lutando?
Jogar as palavras de forma aleatória para atirar em um ou outro, pode não ser realmente o caminho certo. Resta então, exercitar o debate nas escolas, universidades, sindicatos, associações, ONGs e tantas outras instituições que representem de fato e de direito os interesses da maioria da sociedade para que possamos visualizar possibilidades de mudanças.

Em nada ganharemos com o radicalismo das convenções absolutas, onde estamos colocando a mídia, por exemplo, como a grande vilã dos acontecimentos horrendos. Até onde podemos compreender a grande imprensa não criou quadros de pessoas detentoras de mensalões, falcatruas e falta de decoro parlamentar.

É preciso creditar a quem de fato cabe tais responsabilidades para que possamos rever nossos conceitos de honradez e decência. É necessário também instigar a grande imprensa ao debate para que ela não adormeça ou passe por cima dos acontecimentos de forma arrogante, intocável e infalível. Fato totalmente irreal.

Possivelmente, dessa outra maneira de fazer as coisas construiremos uma nova realidade a partir desse novo olhar.

(1) SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia. São Paulo: Loyola, 2002.p.263

domingo, 7 de outubro de 2007

Renangate X títulos cinematográficos


Dos títulos cinematográficos para a representação na vida real. Uma justa homenagem a resistência humana de alguém que muito longe de brilhar como estrela, ofusca a dignidade deste país.

O caso Renangate nos remete a alguns títulos. Apenas remete...

- Vitímas de Um Maníaco (Suspense/EUA/2007/Direção Bem Waller)

- À Beira da Loucura (Comédia/EUA/1999/Direção Alan Rudolph)
- O Acerto de Contas (Ação/EUA/2000/Direção Paul Wynne)
- Demolidor - O Homem Sem Medo (Aventura/EUA/2003/ Direção Mark Steven Johnson)
- Do Outro Lado da Lei (Drama/ARG-CHI-FRA-HOL/2002/Direção Pablo Trapero)
- Duro de Matar 3: A Vingança (Ação/EUA/1994/Direção: John McTiernan)

Isto é real?


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Jogando com as palavras em defesa de Renan


Nos últimos meses e puxando um pouco a partir dos escândalos do Governo de Lula, seqüências de frases e palavras soltas são produzidas e repetidas diversas vezes por personagens da política, intelectuais e estudantes que contribuem para uma nova reflexão sobre o uso dessas palavras de forma aleatória ou não. (?)

A exemplo do próprio presidente da Republica que levantou o bordão “ nunca antes na história desse país...”, seguindo a fila vem seus correligionários como José Dirceu e assemelhados que usam a expressão “mídia golpista” e “a imprensa partidária”. O complemento das frases com predicado direto ou não está sempre associado às palavras soltas e muitas vezes não contextualizadas, tipo: ética, moral, honestidade... só pra citar algumas.

Esse “fenômeno “ de sintaxe serve, no mínimo, para entendermos as razões pelas quais a sociedade aceita determinados movimentos de forma natural. Um exemplo claro seria um candidato a deputado ou senador colocar no seu site ou cartaz algumas frases de efeito: “ sou honesto, defendo a moral e a decência” , “sou contra a corrupção”, “minha vida é um livro aberto” , “nada tenho a esconder”, “ a minha honradez é conhecida por todos”...

Estas perolas textuais nos remetem a uma grande indagação: o decoro na aparência, conduta, respeito e compostura tem quer ser apresentado e vendido?

Jogando com as palavras estamos perdendo as nossas referências. Ontem conseguimos ler textos de personalidades, professores e intelectuais que defendiam os significados das palavras “ética” e “moral” exemplificando pessoas que foram referências (de fato e de direito) nesse país. Hoje, alguns desses mesmos intelectuais querem justificar as atitudes do então senador Renan Larápio Corrupto Calheiros usando estas mesmas palavras.

Acusado e absolvido (absurdamente) de usar um lobista para pagar despesas de uma filha com a então jornalista playboiana Mônica Veloso, fez negociatas no minimo duvidosas na compra de duas rádios e uma emissora de jornal por meio de "laranjas" em sociedade com o usineiro João Lyra nas Alagoas o senador Renan ainda é suspeito de coletar propina em ministérios chefiados pelo PMDB. É pouco???

Ainda assim, muitos e muitos intelectuais que também apontam a mídia golpista de querer derrubar Renan (tadinho... estou até com pena dessa injustiça....!!!), fazem jogos de palavras para tentar explicar o inexplicável. Até onde se sabe, qualquer pessoa corrupta é corrupta em qualquer lugar.

E mais, justificam e comparam os processos anteriores de ladroagem com os atuais e ainda dizem que isso sempre ocorreu na política e que o Renan não é o primeiro (muito menos o último). A pergunta é simples: justificar um erro com outro é lícito? O que vamos ganhar com isso? Mostrar pra sociedade que a impunidade compensa?

Precisamos, realmente, rever nossos conceitos. Quando começamos a acreditar que o desenvolvimento econômico é mais importante do que o estado de direito, verdadeiramente estamos tirando a liberdade e as possibilidades da sociedade e matando a democracia.

A guerra entre poderes: Record X Globo

Não é nova a guerra pelo domínio de mercado entre as emissoras de TVs. A novidade, possivelmente, é a Globo ficar “incomodada” tão abertamente com a concorrente Record.

O mercado ainda olha de fora a briga. Afinal, a Record numa jogada pela tangente entrou na última quinta, 27, com um canal de notícias forte, no sentido de possibilitar ao público uma escolha gratuita de obter informação do Brasil e do mundo durante 24 horas.

Nesse novo cenário de imagem, som, informação e do poder manipulador que a mídia TV tem no país os questionamentos são muitos.

Como fica a guerra da audiência? Qual o próximo passo da Globo para abocanhar ou não perder parte da fatia do mercado? O que pode acontecer com as demais emissoras? Que estratégias elas pretendem traçar para se firmarem ainda mais no mercado?

Algumas dessas questões poderão ser respondidas antes mesmo que a Record suba mais no topo do poder.

Como telespectador o que esperamos mesmo dessa salada toda é que o compromisso com a informação seja a prioridade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007


Bebel no Senado - Dad Squarisi - Correio Braziliense

"Muitos riram. Mas houve os que choraram. O último capítulo de Paraíso tropical levou servidores do Senado às lágrimas. A Câmara Alta substituiu o calçadão de Copacabana. Bebel, fantasiada de Evita, depõe numa fictícia CPI dos Combustíveis. Suas Excelências esbravejam.

Acusam-na de laranja que teria recebido mesadinha de usineiro beneficiado por emendas no Orçamento. Ela ri. Entre irônica e ingênua, diz que se tornou empresária sem saber. Teúda e manteúda de um senador da República, avisa que posará pra Playboy, mas será nu artístico. O sonho da agora prostituta de luxo é ser apresentadora de tevê.

Ficou clara a referência ao dramalhão Renan Calheiros. Reações? Wellington Salgado & companhia corporativista se irritaram. A cena seria “forçação de barra cujo propósito é desconstruir o Senado”. Fingiram ignorar que, no caso, a arte imita a vida. É a vida que enxovalha a instituição. Há quatro meses circula de tudo pelos tapetes azuis da casa: transformação de gabinete em motel, tráfico de influência, lobistas fazendo a festa, troca de votos por cargo. Pior: ao absolver Renan da acusação de quebra de decoro, a maioria julgou as práticas normais. Que bofetada nos brasileiros, hein?

De quebra, as excelências escancararam as portas para a tese defendida pelo PT — a extinção do Senado. A proposta soa como música aos ouvidos dos cidadãos cansados de pagar impostos pra “financiar safadezas”. Há, porém, um pormenor. Indignação afeta a memória. O Senado representa os estados. Ali, cada uma das 27 unidades da Federação tem três representantes. É diferente da Câmara, cujas bancadas são proporcionais ao número de habitantes. O Senado é, pois, ponto de equilíbrio. Sem ele, os grandões (São Paulo e Minas) se tornarão donos do pedaço.

Mais: o Executivo nadará de braçadas. É o ensaio do chavismo.

O Congresso tem 81 senadores e 513 deputados. Quando pipoca um escândalo, contamina-se a instituição. Estrago após estrago, dá-se munição pra fechar o Senado. Depois, a Câmara. Sem um alicerce do tripé, a democracia vira ditadura. Daí o choro dos servidores. Eles sabem: os parlamentares passam. A instituição fica. Mas a atual legislatura quer apagar a luz. Investe pra ser a última a sair".

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A desigualdade social contribui para violência? Entrevista Maria Rita - Maita


Questionar a desigualdade social como elemento contribuinte da violência urbana está em pauta na mídia. Também faz parte da discussão à função das nossas polícias, a formação dos “homens das fardas”, a violência dos grandes centros urbanos, o papel das instituições constituídas e nesse processo em qual direção segue a nossa sociedade. Sobre estes temas, a psicóloga e professora da UNEB em Juazeiro, Maria Rita do Amaral Assy*, conhecida no meio acadêmico e pelos amigos como Maita, fala um pouco dessas questões em entrevista exclusiva para o blog.

Longe de querer resolver todos os fatores atenuantes que se entrelaçam nessa complexa problemática social, Maita relata um pouco a construção ou o sentido de como produzimos, nós, sociedade, as diversas violências.

Teresa Leonel - A sociedade está insegura em relação às polícias militar e civil? A polícia, em geral, não tem credibilidade?

Maria Rita (Maita) - Pensando a sociedade como sendo as pessoas em geral: a relação das pessoas em geral com as polícias é muito ambígua, paradoxal. Não há um único sentido para o que sentem, pensam, esperam da polícia. É um bom campo de trabalho, bem remunerado para os padrões gerais, sério, de respeito etc. (cada vez mais os jovens mesmo graduados concorrem a vagas nas polícias). É também sentida como uma ameaça nas abordagens. É a encarnação da lei. É a corrupção em pessoa. Enfim, para pensarmos essa relação temos que saber de que momento, sob que condições iremos analisar.

Pensando a sociedade como o modo de vida e organização social vigentes: vivemos numa sociedade que tende a solucionar seus problemas e conflitos com a ferramenta ‘polícia’. Tanto delegamos as soluções às instituições policiais, como incorporamos um modo-polícia de lidar com tudo. A política não é admirada toda vez que serve a um controle e repressão? Político bom é tanto aquele que a pretexto de uma transparência, vigia, controla, pune etc. como aquele que exerce a lei, ou até mesmo de onde emana o que deve regular a sociedade? Os furos na imprensa não são para denunciar crimes? O sensacionalismo que muitas vezes é característico da imprensa não estaria mostrando a vida como um drama policial? O bom pai não é aquele que detém o poder de polícia sobre seus filhos? O professor não segura a lista de freqüência, tira ponto, vigia, controla...?

Mas não é fácil e ao delegarmos nossos destinos às polícias, nos enfraquecemos. Perdemos armas, somos suspeitos, estamos sob a polícia. Ao sermos nós a polícia, nos distanciamos, desconfiamos, vivemos um jogo interminável de gato e rato na política, na escola, na imprensa, na família... Daí metemos o pau na polícia e tudo que vem dela, como que para reaver a nossa dignidade. Veja que essas condições estão postas antes mesmo que a polícia, qualquer que seja ela, exerça sua função. De modo que detestamos e admiramos a polícia não importa o que faça. E a depender do que faz, tendemos mais a um lado do que a outro, normalmente não vendo o nosso envolvimento e cumplicidade.

TL - Você fez um trabalho junto à polícia de Juazeiro. Que tipo de análise ou comparação você faz sobre as ações da PM?

Maita - Meu trabalho com a PM da Bahia, mais diretamente com o batalhão de Juazeiro foi por dois anos, 97 e 98, e fiz uma dissertação de mestrado defendida em 2000. Na época as PMs do Brasil estavam vivendo um tempo de abertura, não porque o quisessem, mas porque as suas referências anteriores não davam mais conta. Os policiais que chegavam não eram os velhos analfabetos arregimentados politicamente ou a laço, eram concursados, com ensino fundamental, com necessidades de consumo etc. Não vivíamos mais uma sociedade de apenas dois lados, os nossos e os deles, como na ditadura militar, por exemplo. A repressão não respondia ao gosto asséptico politicamente correto. Enfim, muitas coisas haviam mudado e a polícia precisava mudar também.

Em São Paulo, a condução da mudança da PM se deu pela via da saúde mental, ou melhor, das psicopatologias. Os policiais passaram a ser encaminhados para especialistas e os especialistas passaram a cunhar novos quadros patológicos para enquadrar o comportamento dos policiais. O problema lá se formulou como um problema do sujeito, do indivíduo. Aumentou muito o índice de suicídio de policiais nessa época assim como as denúncias da violência policial (Lembra-se do Rambo na favela Naval? Parece-me que foi o primeiro caso de um filme amador surpreender uma agressão de policiais numa abordagem).

Em Minas, a PM mais tradicional do Brasil deflagrou a primeira greve. O caráter missionário da ação policial foi desmanchado por reivindicações trabalhistas que repercutiram por todo o país. Ao contrário da nobreza da dedicação de um missionário, o que vimos foram as baixas condições de trabalho, de vida dos policiais. Esse movimento foi duramente reprimido, inclusive nos demais Estados.

Já na Bahia, o movimento de transformação da PM voltou-se mais para a própria instituição. Não querendo mais ser “pau-mandado”, braço de coronéis, a PM começa a buscar bases mais autônomas para si e particularmente bases científicas que justificassem e orientassem a ação policial. Foi aí que em Juazeiro a UNEB passou a oferecer um curso de Formação Humanística para os praças. Os oficiais participavam de cursos de sensibilização em uma ONG em Salvador. Na UFBA obtinham-se os subsídios para a qualidade total na administração da PM.
Muitos pensam que foi um curso para “humanização” da polícia. Não foi esse o propósito, era um curso que se valia das ciências humanas para pensarmos o policial nas dinâmicas da sociedade contemporânea. Por outro lado, a expectativa geral era de superarmos, com o curso, a violência policial.

Foi uma época muito rica em experiências, a tal ponto que posso dizer que contribuiu para a Universidade se abrir (e nós que nos sentíamos tão bacanas, tivemos que aprender muito). O desfecho dessa história foi o Policiamento Comunitário, o desenvolvimento de ações preventivas e articuladas com outras instituições, inspirado em experiências do Espírito Santo.

A meu ver, foi uma mudança para melhor, embora deixando de lado coisas melhores ainda que se anunciasse à época, tais como a desmilitarização da PM, e conseqüente a não hierarquização da ação policial, dando oportunidade para uma ação mais inventiva por parte dos policiais diante de cada problema; a revisão das atribuições dessa polícia, inclusive diante dos movimentos de reforma agrária, em que a polícia participaria como força para assegurar as negociações, o que implicaria no tratamento político desse tipo de questão. Lamentavelmente, não só por conta da PM, claro, isso não aconteceu. Posso dizer que nesse caso “a revolução foi a traição da insurreição”, mas deixou marcas importantes.

TL - O caso do vigilante Jean Carlos, onde policiais militares de Juazeiro estão sendo acusados de ter agredido e torturado fisicamente o rapaz porque suspeitavam que ele tinha roubado uma moto do policial José Milton Alves de Souza, deixou a sociedade local revoltada com a violência dentro das corporações. Como acreditar numa polícia que tem a tortura “institucionalizada”?

Maita - Pois é, como acreditamos que a violência policial deve ser a solução que precisamos para a segurança pública? E é com a nossa força que se fazem casos como esse descrito pela imprensa.

TL - O filme Tropa de Elite traz um debate da violência dentro dos quartéis, segurança pública inoperante e um ciclo de policiais corruptos instruindo novos adeptos a prática. A corrupção na polícia é um câncer que não tem cura?

Maita - O que considero mais importante nesse filme e livro não é a corrupção policial, se assim fosse não nos incomodaríamos tanto, já que estamos carecas de saber disso. O que se mostra nesses trabalhos, a meu ver, é o seguinte: “vocês não querem uma polícia preparada, treinada, armada, não-corrupta? Eis o BOPE! Uma polícia que se faz com um preço altíssimo: a destruição do policial que irá incorporá-la, a criação de um estado de guerra; a violência dos métodos etc. E aí, vão querer? É isso o que vocês querem?”

TL - A projeção do filme pode contribuir e estimular a formação de policiais sem escrúpulos?

Maita - O que está acontecendo é que a sociedade não está suportando se ver nessa história. Está muito arraigada a solução policial para os nossos problemas a tal ponto que tememos não saber mais o que fazer se perdermos esse nosso álibi. Engraçado é que apesar do filme ser baseado em fatos reais, num trabalho de um antropólogo e de dois policiais, muitos tratam como se o filme ou o livro estivessem propondo tudo aquilo! É exatamente o contrário! Se começam aparecer cópias reais do filme não foi o filme quem permitiu isso, as condições para se efetivar uma violência daquelas já estavam dadas. Insisto que o problema não é o filme.

Por que nunca mais as crianças se vestiram de azul e se lançaram de janelas para voar como o Superman? Não foi porque o super herói caiu de moda, mas porque também o papai-noel ficou de lado, não crêem mais que o dinheiro está lá no banco à disposição, a mãe não é de ferro nem infalível, o mundo de carne e osso se fez ver, não? Como então vencer a violência policial? Não adianta esperar o filme sair de cartaz, é preciso ver que práticas alimentam essa violência!

TL - Estamos formando uma nova sociedade doente? Com medo de não sair de casa, que não acredita nas instituições constituídas, nos políticos? Que sociedade está emergindo?

Maita - Muita violência acontece dentro de casa, cometida por nós mesmos. A Escola é violenta, os hospitais o são, as redações, os shoppings center, as livrarias, as farmácias, as damas de caridade, as igrejas, os políticos, os vizinhos, os sindicatos são violentos. A polícia também. Vivemos num mundo em que nos fazemos prisioneiros da dívida, da desigualdade, mesmo quando lutamos por melhores condições de vida. Nos desresponsabilizamos pelas ações de violência e esse é o nosso problema. Habituamos-nos a considerá-las um apêndice que pode ser extirpado. E não é assim. A violência vem com o que fazemos, nós a produzimos. Se queremos nos livrar dela, precisamos mudar nossas vidas.

Os maiores índices de violência estão nas cidades onde há maiores desproporções de renda entre a sua população. A maior parte dos crimes serve para suprir o luxo do consumo. Professores, por exemplo, intensificam seus trabalhos para poder ganhar mais e mais, claro que em prejuízo da qualidade do que fazem. Isso é crime. Do mesmo modo os médicos e muitos outros do bem. Por que você acha que uma consulta médica é tão cara? Porque temos que sustentar o luxo do consultório, da família, do status do doutor. Os criminosos assaltantes traficantes etc. e tal querem o mesmo. O crime deve compensar, senão não vale a pena. E a recompensa é financeira, é o aumento do poder de consumo. A pobreza, a fome não são as razões do crime e da violência, pelo contrário, sob essas condições, qualquer um fica anestesiado. O consumo sim é um motor diariamente acionado pela mídia, pelos ditos mais bem sucedidos, pela nossa cultura.

O narcotráfico, o futebol e as passarelas da moda oferecem um caminho suave para as riquezas de nossa civilização!... E a gente alimenta nos nossos corações sonhos de acessos fáceis às misérias do consumo, mas sempre nos sentindo atrás de onde deveríamos já ter chegado. A punição para os crimes cometidos em nome de um maior poder de consumo não nos tiram da corrida pelo ouro. A prisão, a FEBEM, o SPC, o Spa não nos devolvem a vida e sabemos disso. Não são com esses dispositivos que encontramos saídas para o que nos consome a vida.

Mas nem tudo é assim, nem sempre nós vivemos disso e daí é que as reais saídas vão aparecendo. Temos intervalos de tranqüilidade que se não são extensivos a todo o campo social, ao menos criam manchas, abrem caminhos. Que se fecham por forças maiores, mas que nos deixam marcas e podem fazer novos movimentos. Nós vivemos disso, é dessa saúde que nos nutrimos durante o tempo de escuridão. Aqui e ali surgem coisas boas, alegres, diria Spinoza.

Não são esperanças, pois ninguém vive de esperança. Mas são momentos reais, que duram em nós. Não são momentos de paz, pois nada têm a ver com uma oposição à guerra, surgem apesar da guerra, em meio a ela e assim atravessamos. Estamos sempre produzindo, às vezes um mundo melhor.

TL - O custo da violência no Brasil é estimado em 5,09% do Produto Interno Bruto (PIB) de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Escola Nacional de Ciência Estatística (Ence) numa pesquisa publicada em junho/2007. Em sua opinião, os governos investem desordenadamente na área de segunraça pública?

Maita - É em vão querer extirpar a violência que conhecemos, mesmo nos valendo de uma violência muito maior. Recentemente a PM da Bahia destruiu mais de um milhão de pés de maconha que serviriam ao narcotráfico. Na mesma notícia os coronéis vitoriosos alertavam para o aumento da criminalidade em outros setores decorrente dessa operação. A meu ver não foi em vão a ação policial, apenas ela não resolve tudo. Os policiais costumam achar inútil apartar marido batendo em mulher, pois quase sempre a mulher retira a queixa, quase sempre a mesma coisa se repete dias depois. Mas é a tal história, ao separá-los, o policial cria um intervalo. Quem sabe outra coisa não se faz aí? Quem sabe ela o deixa, quem sabe ele a vê de outro jeito, quem sabe? Ninguém sabe. Do mesmo modo as ações sérias tendem a criar intervalos, tendem a quebrar o ritmo desencadeado pela violência criminosa. Ao buscar o corpo do filho, a mãe que se dirige ao policial do Bope, no filme Tropa de Elite, cria um embaraço para ele, que sabe quebrar a máquina em que se tornara.

Quanto aos valores eu não saberia avaliar, apenas lembrar o que Samuel Leite escreveu (um dos monitores do trabalho com a PM em Juazeiro e que foi barbaramente assassinado recentemente). Ele concluiu em uma de suas produções há dez anos: “a insegurança gera um mercado muito lucrativo”.

TL - A violência da polícia é um reflexo da nossa sociedade?

Maita - Bem, como disse, atribuímos super poderes à polícia e cobramos dela o fim dos nossos problemas com a criminalidade e violência em geral. Não estamos desse modo autorizando e até mesmo instigando tais procedimentos?

Além disso, a repressão está prevista como uma ação policial desde a formação do soldado. A sua competência para isso não advém de sua natureza, como antigamente. No início desse Batalhão de Juazeiro, por exemplo, os soldados eram arregimentados dentre os remeiros e de tantos outros do seu porte. Eram homens que se acreditavam fortes e capacitados para a luta pela sua própria natureza. Mas desde os tempos modernos o soldado é fabricado com métodos. Sua farda, seus músculos, o tom de sua voz, a precisão dos seus gestos automatizados, fazem parte de um treinamento sob o qual desaparecem suas fragilidades, ímpetos, intuição.

Por isso às vezes estranhamos que uma mesma pessoa possa ser de um jeito no dia-a-dia e tão rude no exercício policial. Como podemos ver no filme que citamos, não é a raiva de bandidos que molda o policial do Bope, mas a sua disciplina. Lá o policial personagem de Wagner Moura em missão numa favela, pelo celular ouvia enternecido os batimentos cardíacos de seu filho ainda no ventre da sua mulher que fazia uma ultrassonografia. A fabricação do soldado também aparece no filme nas avaliações que são feitas a propósito de dois aspirantes, como pedras brutas das quais se poderiam formar soldados com as características que se desejava.

O que extrapola a hierarquia policial militar (quando o soldado não age sob ordens), o que fere a disciplina (quando é movido pela raiva, por exemplo) é abuso do poder de polícia. A tortura policial pode ser um método ou abuso de poder. Aliás, a tortura como método não é específica dos militares, a polícia civil bem sabe disso.

Além da tortura, os policiais muitas vezes de modo a envolver toda a corporação tomam para si a missão delegada a eles de fazer frente à criminalidade. Criam verdadeiros campos de guerra em meio ao cotidiano das cidades. A gente vê muito isso no Rio e em São Paulo. Isso é assustador, pois não há controle. Não há ninguém que diga aos mocinhos e bandidos que não estamos em guerra. Até mesmo a imprensa se dissimula com medo, ao invés de mostrar a gravidade dessa condução e até mesmo o ridículo de um confronto dessa natureza. Pelo contrário, a imprensa começa a se fazer de boazinha para os bandidos com medo de perseguição. Muitos repórteres começam a fazer média com a periferia como se o lado dos bandidos fosse o dos favelados.

Na realidade, como em toda guerra, a população é vítima, se dá mal, não vive nada nem de heróico, nem de revolucionário nisso. As matérias jornalísticas não mostram os que não estão nem lá nem cá dessa trincheira, pelo contrário, tomam a PM x PCC, por exemplo, como sendo a extensão de toda a realidade. Espero que a polícia da Bahia não comece a sentir também o frisson desse tipo de coisa!...

Para um soldado escapar dessa formação é preciso muita habilidade. Lembro-me de uma dupla de soldados que sem atirar imobilizou um homem armado de escopeta no meio da população de um bairro de Juazeiro. Por que não atiraram? Um deles afirmou que algo lhe dizia que não atirasse. Quando foram conferir, a escopeta estava sem munição. Foi criticado pelos que seguiam a doutrina vigente: sacou a arma, atire. A lei os estaria cobrindo caso disparassem contra um homem armado, mesmo que sem munição. Disseram que não atirar era brincar de polícia. A dupla pensava diferente, agia com a intuição, temia mais a própria consciência do que as punições da lei. Essa dupla era o sinal de uma nova polícia possível, que não era resultante nem de uma natureza pronta para a luta, nem de uma máquina fabricada pela disciplina.

TL - Tem algo que você gostaria de dizer em especial...

Maita - Uma pergunta: como a imprensa pode noticiar a violência policial de modo a nos fazer pensar, a ver o problema em que estamos metidos? Talvez um blog traga essa potência de desmonopolizar a comunicação, não é?

* Maria Rita do Amaral Assy é psicóloga, professora da UNEB em Juazeiro, participou do programa de Formação Humanística do Policial Militar, um convênio entre a DCH III/UNEB e o 3ª BPM/J, que contou com a monitoria dos alunos de Pedagogia: Ivete Macedo, Regina Santana e Samuel Leite, mestre em Psicologia Clínica pelo núcleo de Estudos da Subjetividade Contemporânea da PUC/SP com a dissertação “Agitar, policiar, noticiar em maio de 98” disponível na Biblioteca do campus III, em Juazeiro/BA.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ainda sobre o Shalako ou Challako

Com “S” ou com “C” nada muda em relação a origem e objetivos da casa de shows eróticos Challako, em Juazeiro-BA, fechada há mais de 20 dias. Os defensores das atividades do estabelecimento foram fiéis as suas alucinações na luta a favor da liberação total da continuação da venda e troca do produto humano, neste caso, a mulher.

Qualquer que seja o movimento contrário a isso, todos estão armados até os dentes para defenderem seus interesses libidinosos. Toda esta celeuma tem a ver com o artigo publicado neste blog na terça, 25, com o título O Shallako fechou pra sempre?

Como o assunto chegou até aos gabinetes empresariais do Recife e em Brasília, não faltaram telefonemas e e-mails para debaterem sobre o tema. Assim sendo, além da postagem de mensagens, de forma anônima, é claro, neste blog, outras comunicações foram feitas no sentido de intimidar o discurso de tantas pessoas que pensam semelhantes e que estão batalhando para mostrar outras possibilidades de trabalho para as “meninas” que fazem esse tipo de atividade.

É claro que estamos considerando que esta prática de exposição corporal vem desde o inicio dos tempos. Em 56 A.D. Cristo, por exemplo, o apóstolo Paulo teve muitas dificuldades na pregação do evangelho para o povo em Corinto, parte meridional da península grega, onde se instalava o templo de Afrodite com suas mil prostitutas. O fato não é novo e sabe-se também que esta prática no Brasil não é crime e a exploração do próprio corpo não contém sanção alguma.

Agora, incentivar uma moça a ingressar nesta profissão, isto sim é crime. Sendo assim, os criminosos são os donos dos prostíbulos. No entanto, construir estes templos para abrigar visitantes ilustres tem muitas vantagens.

E até o onde sabemos os freqüentadores assíduos desses estabelecimentos sabem perfeitamente bem o que esperam por eles lá dentro. Os encontros às escuras e na calada da noite com propósitos de alimentar a sensação de voyerismo construído através de imagens e sons, típico de cinema, fazem do local um espaço não apenas com tais objetivos. Busca-se também a troca de favores, negociatas ilícitas, circulação de drogas e manipulação de informação e poder.

Detalhes à parte, o fechamento e talvez a não reabertura deste famoso ponto de encontro dos poderosos empresários, políticos e personalidades importantes das sociedades juazerense e petrolinense é ainda o assunto principal na rodada de negócios realizada por telefones ou nos treinos de futebol amador.

Afinal, o entretenimento disfarçado de "lazer natural" não funciona há quase um mês e, portanto, quais as conseqüências futuras para esses freqüentadores que se dizem humanos?

Só o tempo dirá.