A Tarde, domingo, 08 de março de 2008 – Caderno Especial
Malu Fontes*
A cada oito de março é a mesma celebração em torno das conquistas femininas, todas concentradas basicamente na segunda metade do Século XX, a maioria proporcionada por um evento perverso para a história da humanidade: a Segunda Guerra.
Depois da Guerra, nem a mulher poderia continuar a ser a mesma nem tampouco os países que participaram mais diretamente do conflito poderiam continuar a tratá-la como um apêndice do homem.
De lá para cá, as contendas com o patriarcardo, o machismo e a misoginia foram tantas que metáforas da libertação, como a queima de sutiãs ou a defesa do amor livre após o anticoncepcional, são apenas capítulos mais barulhentos de uma luta sem trégua que toda mulher ainda trava, todos os dias, para assumir as rédeas de sua própria vida e dos seus desejos.
A versão dos pais e maridos passou por uma atualização razoável, o Estado criou mecanismos para protegê-las da discriminação e da violência, mas é inegável o surgimento de uma nova forma de poder exercido sobre as mulheres e seu corpo: o da cultura do consumo que estabelece padrões de beleza, aos quais praticamente todas se submetem voluntariamente, feito cordeiros, mesmo que para isso sofram privações alimentares, dores físicas e coloquem em risco a saúde, seja ingerindo anabolizantes ou insistindo em virar faquir.
Não bastasse a obrigatoriedade de ser eternamente magra, transbordar sensualidade e sexualidade, equilibrar-se em saltos quinze para ir à esquina, torturar-se em sessões espartanas de malhação, manter-se com aparência de 18 anos dos 12 aos 80, inflar seios, glúteos e coxas, caber em manequins de adolescentes e serem eficientes donas de casa e cozinheiras nas horas 'vagas', está em cena uma nova tendência entre mulheres endinheiradas que caminham para a enésima relação: passar no cirurgião plástico e entre um botox, um silicone, um lifting e uma lipo, reconstruir o hímen à perfeição, para "dar de presente" e agradar ao homem da vez.
Assim caminha parte da mulherada: ora orgulhando-se da ascensão profissional, ora pagando para reconstruir uma membrana que durante séculos encarnou, como poucas coisas o fizeram, o poder e a propriedade absolutos do homem (tanto de pais quanto de maridos) sobre o corpo e o desejo femininos. A diferença é que, no passado, o hímen era uma exigência cultural de um tempo (ainda é em muitos rincões).
Hoje, é apenas mais um sacrifício comprado por mulheres para agradar homens que, se pudessem, diferentemente delas, mandariam encadernar e distribuir toda a vida sexual pregressa, a mesma que, simbolicamente, a mulher do tempo das plásticas busca apagar numa mesa cirúrgica.
*Malu Fontes é jornalista, Doutora em Comunicação e Cultura, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e colunista da revista da TV de A TARDE
domingo, 9 de março de 2008
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Oi Teresa, não deu para entender bem o título correlacionado com o texto... subentende-se...
ResponderExcluirA propósito, outro dia, minha empregada disse que ficou "novinha" em folha, lá embaixo, no hímen mesmo, usando a gosma da babosa... uma receita que não custa praticamente nada, e que ela faz (ela realmente é liberada sexualmente) para todos os novos maridos/companheiros...
Assim, todos ficam felizes!!!! Eu pergunto: quem é mais inteligente nesta hora?
Bet,
ResponderExcluirEu é que questiono também, será que é uma questão de inteligência?
Oi; concordo que o dia da mulher não deva ser comemorado com o capitalismo selvagem das rosas presentes e até noitadas em motéis, e sim com reflexões ate onde a mulher usufrui dessa liberdade em favor dela e das outras mulheres, porém com relação a botox e cirurgias acho que tem muito mais a ver com a questão da vaidade feminina que também existe o estereótipo midiático e que acabam interpretando como auto estima. Talvez não precisamos ser radical e achar que é para servir e agradar ao parceiro e sim a si mesmo. (vale lembrar que apesar da defesa eu vivo naturalmente e crio minha moda e o meu jeito de ser e vestir)
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